A construção de um novo hospital central em Évora, que a crise colocou desde 2012 em fase de desaceleração, promete marcar a agenda política na região. Todos (PCP, PS e PSD) concordam que a actual unidade hospitalar está esgotada mas aguardam-se novos passos para a concretização de um investimento estimado em 94 milhões de euros.
A área de influência de primeira linha do novo hospital abrange 150 mil pessoas, dos 14 concelhos do distrito de Évora, enquanto, numa segunda linha, serão servidas 440 mil pessoas dos restantes 33 concelhos do Alentejo (Portalegre, Beja e Alentejo Litoral).
Neste cenário de indefinição, o PCP, pela eurodeputada Inês Zuber, questionou em Junho a Comissão Europeia sobre os apoios e taxas de cofinanciamento que podem ser disponibilizados para a construção do novo Hospital Central de Évora.
“Numa recente reunião com a Administração do Hospital do Espírito de Santo de Évora, com estatuto de Hospital Central, pudemos comprovar as carências logísticas que afectam este hospital. Situado há mais de 40 anos num antigo edifício, as instalações infraestrutruras do mesmo são claramente insuficientes e exíguas face às necessidades dos utentes, impedindo assim a qualificação de alguns serviços bem como o investimento e alargamento a novos serviços clínicos como a reumatologia, a neurocirurgia ou a cirurgia vascular, fundamentais para os utentes do distrito de Évora como da região do Alentejo. Por outro lado, um novo edifício do hospital permitiria um investimento em diferenciação e inovação tecnológica, fundamental para a saúde dos utentes e para o trabalho dos profissionais de saúde”, pode ler-se no texto que enquadra as duas perguntas da eurodeputada comunista. Inês Zuber questiona: “Que programas e medidas do actual Quadro Financeiro Plurianual (2014-2020) podem ser mobilizados para apoiar a construção do novo hospital de Évora e quais as condições no que respeita a taxas de cofinanciamento previstas? Alguma entidade ou instituição submeteu, até este momento, um projecto de candidatura para mobilização de fundos da UE para apoio à construção do novo hospital?”
Em Maio, recorde-se, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, admitiu que o Governo estaria a considerar avançar com a construção do novo hospital mas não se comprometeu com datas para o início da obra. Por esses dias e em declaração prestada à Lusa, o presidente da distrital de Évora do PSD, António Costa da Silva, recordou que a estrutura social-democrata entende a construção do novo hospital como uma “prioridade” e realçou que essa foi uma posição defendida “mesmo quando se disse que não existiam condições”.
Por parte do PS, como o Linhas noticiou, a construção do novo hospital central é “grande prioridade” do programa eleitoral socialista para o distrito.
Em declarações ao Linhas, Elsa Teigão, presidente da concelhia socialista de Évora, reforça a reivindicação: “As condições da estrutura física do HESE, o espaço e a necessidade de uma intervenção para a manutenção das condições necessárias adequadas ao funcionamento de um hospital, a separação dos serviços em dois edifícios, são algumas das evidências da necessidade da construção de um novo Hospital Central”.
Para Elsa Teigão, o actual discurso governamental sobre o tema “é claramente um golpe de propaganda eleitoral”. “Se concordasse com a sua construção não tinha travado o processo quando tomou posse. São declarações sem consistência e incoerentes, uma vez que acabou de negociar os fundos europeus deste quadro comunitário com a afetação das verbas não estando inscrita a construção do Hospital”, disse.
Um historial de problemas
Associado à questão do novo hospital tem estado quase sempre o historial de problemas relativos ao funcionamento da actual unidade hospitalar – HESE. A par das dificuldades para adequar um edifício antigo a novas necessidades, o HESE tem vivido tempos difíceis, quase sempre por dificuldade em substituir médicos que vão saindo, para a reforma ou para o sector privado.
O mais recente caso, levou o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, a questionar o Governo sobre a demissão da coordenadora da viatura médica de emergência e reanimação (VMER). Eleito por Évora, João Oliveira diz que a demissão da médica Ireneia Lino é “naturalmente factor de preocupação quanto às condições de organização dos meios necessários à operacionalidade da VMER”.
Na oncologia, o mês de Maio ficou marcado pela demissão de três dos quatro especialistas deste serviço que serve todo o Alentejo.
No que se refere ao funcionamento deste serviço (e também do de radiologia), a CM Évora, de maioria comunista, solicitou audiência ao presidente da ARS Alentejo com o “intuito de conhecer a situação em detalhe e obter esclarecimentos sobre a atual capacidade de resposta dos serviços de saúde públicos nestas especialidades e se a mesma põe em causa o direito à saúde dos utentes”.
Por parte do PS, Elsa Teigão diz que vê “com preocupação as sucessivas demissões no HESE, nomeadamente no Serviço de Oncologia”, por se tratar de um serviço “sensível que necessita de tranquilidade e estabilidade das suas equipas”.