Todos os anos assistimos à atribuição dos Prémios Nobel, por vontade do seu criador Alfred Nobel. Esses prémios contemplam diversas áreas, mas a Matemática não é uma delas. Porque é que não existe Prémio Nobel da Matemática? A resposta a esta pergunta tem sido alvo de especulações e de histórias ao longo dos anos, existindo várias possíveis justificações.
A mais popular delas defende que o motivo terá sido uma mulher. Segundo as “más-línguas”, o matemático sueco Gösta Mittag-Leffler teve um “affair” com a mulher de Nobel e este, por vingança, não premiou a Matemática. Esta é a versão franco-americana. No entanto, temos de chamar a atenção para o seguinte: Nobel nunca foi casado, mas teve uma amante, a vienense Sophie Hess, e não parece que tenha havido qualquer ligação entre ela e Mittag-Leffler, pelo que é pouco provável que se consiga provar a veracidade desta versão.
A outra possível resposta – segundo a versão sueca – tem a ver com o facto de Mittag-
-Leffler ter sido um matemático importante na Suécia na época em que Nobel escreveu o seu testamento. Havendo um prémio para a Matemática, Mittag-Leffler poderia “mexer os cordelinhos” para que fosse o primeiro premiado, o que não seria do agrado de Nobel, em particular por supostamente haver um “atrito” entre os dois. De facto, Nobel fez dois testamentos: o primeiro, a 14 de Março de 1893, em que cedia parte do seu legado à Universidade de Estocolmo; o segundo, a 10 de Dezembro de 1895, já não incluía esta universidade, cujo reitor era, na altura, Mittag-Leffler. Contudo, não há provas de que Nobel e Mittag-Leffler se tenham relacionado, por isso esta versão pode não corresponder à verdade.
Nobel deixou a maior parte da sua herança a uma fundação que premiasse, anualmente, quem se distinguisse nas áreas pelas quais se interessava: Física, Química, Medicina, Literatura e Paz.
Portanto, talvez não haja Prémio Nobel para a Matemática, simplesmente porque Nobel não tinha qualquer interesse por ela.
Para colmatar esta “falha”, no Congresso Internacional da Matemática de 1924, em Toronto, John Charles Fields idealizou e criou a Medalha Fields: o “Nobel” da Matemática.
Clara Carlota, Professora do Departamento de Matemática, ECT da Universidade de Évora
Sílvia Chá, Doutorada em Matemática pela Universidade de Évora