O deputado José Ribeiro e Castro despediu-se hoje do Parlamento com uma intervenção sobre Olivença. Deputado logo na primeira legislatura, repetindo a eleição em mais cinco ocasiões, o centrista fez parte de vários governos da Aliança Democrática e de Cavaco Silva.
“Foi há poucos anos que conheci uma Olivença diferente, através dos oliventinos. Ao tramitar uma petição, como Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros, conheci a Além-Guadiana, associação de direito espanhol, que desde 2008, com visão e generosidade, desenvolve trabalho notável de revitalização da matriz portuguesa em Olivença e Táliga e promove um pujante ideal de biculturalidade”, realçou no discurso que marcou a sua despedida da política partidária.
Referindo Olivença do presente – “Hoje, em Olivença, vê-se calçada portuguesa; e, na toponímia do belíssimo Centro Histórico, todas as praças, ruas e travessas, exibem o nome actual espanhol e, em impecável azulejo, o correspondente nome antigo português” -, o deputado acrescentou que as “raízes lusas são orgulho oliventino, que guarda admirável património monumental português”.
Numa intervenção sentida, o elogio de quem tem trabalhado em função da preservação da cultura portuguesa: “O trabalho da Além-Guadiana não tem paga possível. Expresso o reconhecimento a “Os Três Mosqueteiros” da biculturalidade e do bilinguismo, que, aqui, também são quatro: o Joaquin Fuentes Becerra, o Eduardo Machado, o José Antonio Gonzalez Carrillo (o escritor do grupo) e o D’Artagnan, que é mulher e artista, a Raquel Sandes Antunez. Nada teria sido possível sem eles e sem aqueles que se lhes juntam. Esta Olivença, onde tenho ido dezenas de vezes e por que me apaixonei (“Olivença, meu amor”), é uma terra única, absolutamente singular: “a nossa pequena Alsácia”, como digo, na raia de Portugal e Espanha. São essa ambiguidade, essa dupla pertença, esses traços simultaneamente espanhóis e portugueses, que fazem Olivença diferente de tudo o resto e inconfundível – essa é a sua marca, o seu capital. No fundo, não é de estranhar que, olhando toda a História peninsular, pudesse haver, quanto a Portugal e Espanha, um lugar em que a fronteira não é fronteira, em que a fronteira não é uma linha tangente, mas linhas secantes dos dois, uma fronteira que, em vez de separar, abraça e reúne”.