Apesar da introdução catastrofista não quero com este artigo fazer previsões de como será o mundo em 2070 mas sim a explicar-lhe o que são as alterações climáticas e quais os factos científicos que as suportam. Vamos então começar pela típica forma adoptada por cientistas quando iniciam uma investigação, com um facto curioso seguido de uma pergunta:

Desde 1850 que existem registos da temperatura. Se compararmos os registos desde essa época até aos nossos dias verificamos que a temperatura média anual é superior hoje do que era à 170 anos. Isto é um facto, existem registos fez-se as contas e a matemática não engana. Perguntamo-nos então qual é a razão deste fenómeno?

Podemos desde já avançar uma hipótese que explica as alterações climáticas sofridas pelo planeta nos últimos milhares de anos e que é responsável pelas várias Idades do Gelo do passado. Falo dos ciclos de Milankovitch, que passo a explicar resumidamente. A trajectória da Terra em torno do Sol, a inclinação do eixo da Terra (actualmente 23º) e a direção dessa mesma inclinação não são fixas, variam de forma previsível e a essa variação chamamos ciclos de Milankovitch. A consequência dessa mesma variação é uma maior ou menor proximidade ao Sol e um maior ou menor período de exposição ao Sol,
 resultantes na em níveis de radiação na Terra maiores ou menores, conduzindo a um aquecimento ou arrefecimento. É sem duvida uma teoria plausível, contudo, os ciclos de Milankovitch duram milhares de anos e não centenas Para além disso, se os ciclos fossem os principais responsáveis pelo aquecimento do planeta, seria de se esperar um aquecimento em todas as camadas da atmosfera, já que uma maior quantidade de radiação deveria chegar à superfície da Terra, no entanto a NASA demonstra que não só  não houve um aumento acentuado na quantidade de radiação solar a chegar à Terra mas também que está apenas a ocorrer um aquecimento da superfície terrestre e não de toda a atmosfera como seria de esperar. Tendo em conta os factos, devemos então refutar esta nossa hipótese e partir em busca de mais factos que possam apontar-nos na direção certa.
Portanto, sabemos que a Terra aqueceu nos últimos 170 anos, que esse aquecimento se verificou de forma desigual na atmosfera (apenas junto à superfície terrestre) e que não houve um aumento na quantidade de radiação. Juntemos então outro facto, a concentração de dióxido de carbono (CO2) no planeta é até 40% mais elevada do que o era em 1850. Poderá o aumento de CO2 estar a aquecer o planeta?

Para responder a isto é necessário saber um pouco mais sobre este gás. O CO2 sempre esteve presente na atmosfera terrestre, as suas concentrações variaram ao longo de milhões de anos, é fundamental na fotossíntese e tem a propriedade de ser um gás com efeito de estufa, tal como o vapor de água. Ser um gás efeito de estufa significa que é capaz de absorver calor. O Sol emite radiação, aquecendo a  superfície terrestre que, por sua vez, “devolve” esta radiação de volta para o espaço, contudo, a radiação é “capturada” por gases de efeito estufa que a reemitem de volta para a Terra, aquecendo-a. Podemos então começar a teorizar que, sendo o CO2 um gás de efeito estufa e por isso, conhecendo as consequências deste fenómeno, é plausível assumirmos que o aquecimento da Terra se deve em grande parte ao aumento da concentração deste gás na atmosfera, até porque o aumento do CO2 coincide cronologicamente com o aumento da temperatura.
Perguntamo-nos então o que levou ao aumento do CO2?

Será importante percebermos o que aconteceu a meio do séc. XIX. De facto, ao analisarmos a História, vemos que foi neste século que foi inventada a máquina a vapor, e se começaram a utilizar os  combustíveis fósseis que levaram à Revolução Industrial. A procura por combustíveis fósseis, primeiro o carvão e depois o petróleo, aumentou. A sua queima como consequência da actividade humana (fábricas, transportes, etc.) liberta o CO2 que estava armazenado nesses combustíveis. A revolução industrial permitiu um aumento da população mundial que teve como consequência uma ainda maior procura por estes combustíveis e uma mais rápida desflorestação para a construção de cidades, caminhos de ferro e produtos alimentares. Se por um lado a queima dos combustíveis aumenta por si só a concentração de CO2 na atmosfera, por outro, as árvores são responsáveis pelo sequestro de carbono, utilizam CO2 para a fotossíntese retirando-o da atmosfera. A desflorestação reduz assim a quantidade de carbono sequestrado aumentando ainda mais a quantidade de CO2 na atmosfera. Temos então caro leitor uma hipótese científica, baseada em factos que parece explicar o aquecimento da Terra. Resumindo: O CO2 aumenta a sua concentração devido à actividade humana.

A temperatura na Terra tem vindo a aumentar nos últimos 170 anos. O CO2 é um gás de efeito
estufa, o que significa que tem a capacidade de aquecer o planeta. O aumento da concentração do
CO2 coincide cronologicamente com o aumento da temperatura e ambos coincidem com a revolução
industrial.


Não me querendo alongar mais neste artigo, quero apenas deixar dois pontos importantes. O CO2 não é o único gás de efeito de estufa responsável pelo aquecimento da superfície terrestre, existem outros como o metano e o óxido nitroso. O processo de aquecimento da Terra não é tão linear e simples como aqui o expliquei, existem outros factores que contribuem como a quantidade de gelo, as correntes marítimas, os oceanos, etc. É uma teia muito complexa em que é impossível mexer numa ponta sem perturbar todo o sistema. Como se trata de um artigo de carácter quase científico, partilho as fontes que usei na sua construção, para que o leitor possa confirmar o que aqui lhe disse e tirar as suas conclusões.

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Paulo Sousa

Biólogo Investigador em Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

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