Fará no dia 4 de Novembro de 2021 cinco anos após a entrada em vigor do Acordo de Paris em Portugal. Para o leitor mais desatento, o Acordo de Paris é um projeto global que tem como objetivo a limitação da subida da temperatura a 2ºC em relação à época pré-industrial. Este acordo obriga os países signatários a definirem (e cumprirem) metas nacionais que promovam a limitação de emissões de gases com efeito de estufa, descarbonizar as economias e aumentar a percentagem de energia produzida através de fontes renováveis (hidroeléctrica, eólica e solar). É também importante salientar que todos os movimentos da sociedade civil (como as várias greves climáticas, muito apadrinhadas pelos jovens) geraram uma enorme pressão em vários governos e obrigaram a mudanças (pelo menos no discurso).

O cenário, caro leitor, parecia bastante simples, destruir as “forças maléficas” produtoras de gases com efeito de estufa que estão a destruir o mundo como o conhecemos e ajudar as “forças do bem” produtoras de energia limpa e amigas do ambiente que vão tornar o mundo naquilo que queremos. Infelizmente, o cenário é bem mais complicado do que parecia, ou talvez, do que quiseram fazer parecer.

A organização ZERO publicou no passado dia 30 de Abril que oito dos nove grandes projetos de centrais fotovoltaicas apresentam impactos ambientais, na sua maioria desflorestação mas também “artificialização de áreas rurais”, e impactos nas populações residentes. São também referidos estudos que mostram o impacto das centrais fotovoltaicas nas populações de aves. Mas não fiquemos por aqui. Podemos relembrar dois acontecimentos em Portugal que nos podem levar a questionar as centrais fotovoltaicas. A montaria na Quinta da Torre da Bela (um dos projetos avaliados pela ZERO) que resultou no abate de mais de 500 animais (e acentuou ainda mais a percepção negativa que algumas pessoas têm da caça), o mesmo projeto que planeia o abate de várias centenas de sobreiros (árvore protegida) e azinheiras, que juntas constituem a base do montado, uma formação agro-silvo-pastoril com elevados valores ecológicos e a polémica em torno do município de Nisa que aumentou uma taxa para desincentivar a instalação de novas centrais porque entendeu que corria o risco do seu município ficar “forrado” a painéis solares.

Como já tive a oportunidade de defender, noutro artigo, quase todas as nossas atividades têm impactos (muitos deles negativos) no ambiente e sempre achei que os discursos proféticos de que as energias renováveis iriam resolver os problemas da Humanidade e iamos todos viver felizes e em comunhão com a Natureza é, perdoem-me a expressão, vender a banha da cobra. As centrais fotovoltaicas, as centrais eólicas, as barragens para produção hidroeléctrica têm impactos ambientais, muitos deles graves, especialmente se forem instalados em áreas protegidas, por exemplo.

Devemos então deixar de investir em centrais fotovoltaicas, eólicas e barragens? NÃO! Por dois motivos. Primeiro, as centrais eólicas e fotovoltaicas são fundamentais para aliviar a pressão sobre os combustíveis fósseis que estão cientificamente comprovados como causadores das alterações climáticas antropogénicas. As barragens também têm um papel a desempenhar aqui, mas na minha opinião, uma vez que Portugal será um dos países que mais irá sofrer com as alterações climáticas devido à redução da disponibilidade de água, que já se faz sentir nas regiões do Alentejo e Algarve, as barragens deverão preferencialmente funcionar como reservatórios de água e não produtoras de energia. Segundo, a Humanidade precisa de energia. Temos de produzir energia de uma forma ou de outra. Tudo o que fazemos requer energia, aquecermos as nossas casas e comida, deslocarmo-nos, bombear água, construir edifícios, etc. Independentemente das opções que se tomarem para a transição energética, vai haver impactos. A humanidade terá sempre problemas relacionados com a degradação da Terra. A solução não é não fazermos nada e voltarmos para as cavernas, é usarmos a ciência e a educação para solucionar os problemas com que somos e seremos confrontados.

Paulo Sousa é biólogo Investigador em Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

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