As grutas do Escoural (Portugal) e de Maltravieso (Espanha), as únicas do sudoeste ibérico com arte rupestre do Paleolítico, estão a ser estudadas com tecnologias do século XXI e vão ter visitas turísticas virtuais, através do 3D.
Os dois locais, um no concelho alentejano de Montemor-o-Novo, no distrito de Évora, e o outro em Cáceres, na Estremadura espanhola, são alvo do projeto transfronteiriço First-Art, num investimento de cerca de meio milhão de euros, com financiamento comunitário.
A iniciativa de conservação, documentação e gestão das grutas, as “primeiras manifestações de arte rupestre no sudoeste da Península Ibérica”, está em curso desde 2018 e foi hoje apresentada na localidade de Escoural.
No caso da gruta alentejana, classificada Monumento Nacional e a única em Portugal com arte rupestre do Paleolítico, os investigadores têm estado “a estudá-la em várias dimensões”, com as mais recentes tecnologias, disse à agência Lusa a diretora regional de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira.
“Uma das que se destacam mais é a modelação a três dimensões (3D)”, a qual permite uma acessibilidade maior aos monumentos”, já que possibilita “construir uma visita virtual com muita qualidade e com elevada resolução e aproximação àquilo que é a realidade”, destacou.
Ana Paula Amendoeira lembrou que as visitas à Gruta do Escoural são limitadas, devido à necessidade de conservar as pinturas e gravuras de arte rupestre identificadas, pelo que dispor de uma visita virtual “facilita muito o acesso do público em geral”.
“Nestas grutas, o facto de termos uma boa modelação 3D, que permite uma aproximação muito rigorosa daquilo que é o valor patrimonial, [será] um dos resultados a destacar”, disse.
O First-Art, promovido no âmbito da eurorregião EUROACE, que junta o Alentejo e o Centro, em Portugal, e a Estremadura espanhola, permite “aplicar tecnologia do século XXI em grutas com mais de 20 mil anos”, destacou Hipólito Colado, responsável pelo departamento de arqueologia da Junta da Estremadura.
“Isso é muito importante. As grutas já foram muito bem estudadas, mas, agora, temos meios que antigamente não tínhamos e isso permite avançar no conhecimento”, afirmou, sublinhando que podem ser descobertas “novas figuras e novas ideias sobre como fizeram o pigmento”.
No Escoural, os investigadores estão também a utilizar diversas tecnologias para “tentar conhecer em que momento” foi feita a arte ou “quando foi utilizada a gruta”, entre outras questões, exemplificou.
Em termos turísticos, Hipólito Colado realçou que o projeto vai permitir tornar as grutas acessíveis a todos, graças à visitas virtuais, imersivas e tridimensionais.
“Nem toda a gente pode entrar numa gruta”, como é o caso “das pessoas com mobilidade reduzida”, além de que, “em Maltravieso, agora, nem sequer pode entrar ninguém”, enquanto no Escoural “entram muito poucos visitantes”, apontou.
Mas a visita virtual “permite o acesso universal” a estes dois sítios, quer nos centros interpretativos de ambas as grutas, que estão a ser renovados e vão ter exposições interativas, quer na Internet: “Em qualquer parte do mundo, as pessoas vão saber como é a gruta do Escoural, como é e onde está”, ficando também com “curiosidade para explorar a região”, afiançou.
O projeto é liderado pela Junta da Estremadura e envolve a Direção Regional de Cultura do Alentejo, que tutela a Gruta do Escoural, as câmaras municipais de Montemor-o-Novo e de Mação (esta em representação da região Centro), e a Junta de Freguesia de Santiago do Escoural.

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