A Guerra das laranjas de 1801 que conheceu uma resistência decisiva em Elvas e entra a população de Campo Maior deu origem à já referida, nesta coluna e em várias publicações científicas, anexação de Olivença. Era então primeiro-ministro de Espanha Manuel de Godoy, Duque de Alcudia e mais tarde de Sueca, em Espanha, Príncipe da Paz, e Conde de Évora-Monte concedido em 1797 por decreto da Rainha D. Maria I de Portugal – na prática provavelmente seria do príncipe regente (cf. Jacqueline Hermann, «O rei da América: notas sobre a aclamação tardia de D. João VI no Brasil», 2007). Por parte da família materna o ambicioso governante espanhol, natural de Badajoz e nascido no seio da nobreza de província, tinha ainda ascendência portuguesa – por via de sua mãe Antónia Justa Álvarez de Faria. A Guerra das Laranjas termina em junho e entre julho e outubro Manuel Godoy ou Carlos IV terá encomendado uma grande pintura que visava comemorar as vitórias da Guerra das Laranjas na fronteira com Portugal.
O que tem a ver o célebre pintor Don Francisco de Goya (Fuendetodos 1746 – Bourdeaux, França 1828)com este episódio da História do início do século XIX? Aparentemente nada. Porém, é precisamente Francisco deGoya que é escolhido e executará o icónico retrato triunfal de Manuel de Godoy no rescaldoda Guerra das Laranjas, cheio de simbolismo para a Coroa de Espanhae certamente tristemente lembrado pelas populações da raia e pelos Reis de Portugal. Àquele período quemarcou decisivamente epermanece em larga medida na memória portuguesa esteve ligado, imortalizou e deu o seu cunho o primeiro pintor da Corte, o genialFrancisco de Goya autor de LosCaprichos.
O que nos leva a que, mesmo sem especial gosto pelo acontecimento e guerra, voltemos com atenção à obra-de-arte do mestre(juntamos imagem do quadro para se compreender a dimensão e atentar aos detalhes). A pintura está actualmente no museu da Real Academia de Bellas Artes de San Fernando em Madrid – proveniente da colecção de Godoy, permanece na academia desde 1816, depois da conturbada era napoleónica (cf. Red Digital de Colecciones de Museos de España – Resultados de la búsqueda (mcu.es), consultado em junho de 2022).
Goya sob o título «Godoy como general» de alguma forma aqui deixou inculcado, explicitamente pelo menos ao retratá-lo trajando uniforme de capitão-general embora numa postura dúbia e curiosa e apresentando as bandeiras, para a Arte e para a História algo da impressão da sociedade de então.

Tiago Matias é licenciado em Estudos Europeus (Faculdade de Letras de Lisboa)