A Sé de Elvas, durante a manhã de domingo, contemplou de frente uma moldura de carros clássicos de várias cores da época, de vários anos e com várias histórias acumuladas. Ainda que os principais protagonistas tenham sido os minis, os seus padrinhos de quatro rodas juntaram-se para acrescentar ainda mais cor e memória ao encontro.

De manhã cedo, o sol decidiu começar a romper o céu cinzento que imperava e as ruas semi-vazias e calmas da cidade de Elvas aguardavam a caravana de clássicos que iria passar e chegar à Praça da República. Do silêncio rotineiro passou-se rapidamente para uma manhã preenchida com o barulho de muita conversa e convívio justificado pelo encontro e reencontro de mais de 70 amantes de carros antigos.

Os anos de antiguidade representados em quatro rodas respiraram quando estacionaram.
De motores a arrefecer, muitos foram os elvenses e turistas que passaram para apreciar aquele conjunto de carros. Carros estes que ganharam um novo palco, quando registados em muitas fotografias e vídeos, e ainda abriram portas para muitas lembranças de histórias antigas de quem por ali andou. Seja porque o seu primeiro carro foi igual a um daqueles, ou porque o casamento foi num carro clássico, ou ainda porque se sonha adquirir um.

É impossível o brilho das jantes, as cores entusiastas que pintam a chapa, o barulho intenso e irreverente dos motores e as buzinas peculiares não fazerem parar uma cidade. Desta vez, as relíquias apenas pisaram as estradas do centro de Elvas, mas o mais interessanteviu-se nos caminhos que muitos, vindos de outros concelhos e até de Espanha, fizeram para aumentara riqueza automóvel.

Deixados a descansar e a conviver entre eles (os carros, claro), o grupo de pessoas ia caminhando pelas ruas do centro histórico e escutando o guia turístico, que de brilho no olhar, explicava algumas curiosidades e marcos da história da cidade, conhecida pelo mundo pelo seu conjunto histórico-cultural e designada como Cidade-Quartel Fronteiriça sendo Património Mundial da UNESCO.

Parece-me justo fazer um bem-haja aos detalhes que completam eventos como este, em que para além de se andar de carro ou estacioná-los, também se passeia e visita o que carrega um contexto histórico valiosíssimo há séculos. É mutuamente vantajoso: por um lado, para quem não é da zona, acrescenta na sua lista de visitas uma nova cidade, algumas igrejas, museus e ruas bonitas com paredes marcadas do tempo; e, por outro lado, para quem é residente, volta a conhecer ou conhece pela primeira vez. Porque, curioso ou não, muitas das pessoas conhecem aquilo que é seu apenas e só quando se realizam estes eventos. Por experiência própria, fiquei a conhecer cantos e cantinhos devido ao plano escolhido para este encontro de automóveis.

E quem refere Elvas, refere outras tantas cidades que existem no Alentejo e por Portugal fora. As estradas agradecem a passagem de máquinas que agregam histórias felizes e desafiantes da época e as portas das cidades abrem-se de alegria por verem chegar um novo grupo de pessoas que vai conhecer e que, de algum modo, vai levar consigo o cheiro característico, a arquitetura imperativa da região e a barriga recheada de comida tradicional.

Como poderemos nós defender o que é nosso se não o conhecermos e usufruirmos?

Como poderemos nós agradecer ao que muito já passou e muita história ainda carrega?

Parece-me que eventos como este podem ser uma das respostas a estas duas questões.


Leonor Abelha Terrinca
(Licenciatura em Relações Públicas e Comunicação Empresarial pela ESCS e Mestrado em Comunicação Estratégica e Liderança pela UCP)

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