O anunciado fecho de dois lares da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) em Beja motivou hoje um protesto na cidade, com funcionários e familiares de utentes a queixarem-se que não sabem “o que fazer à vida”.
“Estamos aqui completamente às escuras” e “não fazemos a menor noção do que se vai passar no dia 31 de julho”, data anunciada pela CVP para o fecho, lamentou António Lampreia, que tem a mãe, de 81 anos, numa das instituições.
Uma familiar de outra idosa, Conceição Carvalho, com a mãe de 90 anos institucionalizada, admitiu que as instalações da CVP “não são as melhores”, mas isso sempre foi compensado pelo “tratamento que os funcionários davam aos utentes”.
“Que eu saiba, foram sempre bons”, elogiou, afirmando não compreender o encerramento dos lares, sendo agora “muito difícil” encontrar vaga noutra instituição para colocar a mãe.
Em comunicado enviado também hoje, a CVP assegurou ter-se “empenhado ativamente na procura de uma solução para recolocação de todos os utentes” dos seus dois lares em Beja.
Cerca de 30 pessoas, entre funcionários, familiares de utentes e populares, participaram hoje à tarde numa ação de solidariedade e protesto contra o fecho dos lares da CVP nesta cidade alentejana.
A iniciativa foi promovida pelo Movimento para a Salvaguarda dos Utentes, Famílias e Trabalhadores dos Lares da Cruz Vermelha de Beja, tendo decorrido à porta da Casa de Repouso Henry Dunant.
Os perto de 15 funcionários presentes no protesto explicaram aos jornalistas que este é já o único lar ainda aberto. O outro, a Casa de Repouso José António Marques, “fechou na semana passada”.
“Um já fechou e este, no dia 31 de julho, vai fechar também. As utentes que temos aqui não sabemos para onde vão. E nós também não sabemos para onde vamos”, resumiu uma das funcionárias, Fátima Costa.
Segundo as funcionárias, há mais de 30 utentes na Casa de Repouso Henry Dunant e 29 trabalhadores, que ainda não receberam qualquer carta de despedimento, nem informação escrita da CVP.
“Não mandaram carta nenhuma”, sublinhou Fátima, garantindo que não abandona o trabalho sem documentação e sem “levar” os seus “direitos”.
E, se não receber nada até 31 de julho, prometeu continuar a ir trabalhar.
“Vamos continuar nem que as portas estejam fechadas” e dar apoio aos idosos porque “os utentes não têm culpa”, disse.
Emília Bexiga, trabalhadora da CVP há 36 anos, lembrou que fez “a vida” na instituição e, agora, é “velha demais para trabalhar e nova para a reforma”, pelo que está “muito nervosa” e “descontente” com a situação.
“Andamos esgotadas de um todo. Nem sabemos o que vai ser feito da nossa vida”, lamentou.
Também António Lampreia disse estar “extremamente revoltado” e indicou que lhe foi sugerido levar a mãe para um lar em Barrancos, hipótese que rejeita.
“Costumo vir buscar a minha mãe para passar o dia comigo, todas as semanas. Não é possível fazer 150 quilómetros para lá e outros 150 para cá com um idoso. Isso é obrigarem-nos a virar costas à pessoa de quem gostamos, por isso, está completamente fora de questão”, frisou.
No comunicado de hoje, a CVP referiu que “tem realizado semanalmente reuniões com as entidades competentes [para] encontrar a melhor solução para as 33 pessoas que ainda se mantêm” nos lares.
“Adicionalmente às vagas já encontradas, foram identificadas 11 novas vagas e brevemente serão comunicadas mais seis às famílias, num total de 17”, indicou.
Sobre os funcionários, a instituição reiterou a “impossibilidade” de os recolocar noutras das suas respostas sociais e assumiu que “tem estado a efetuar contactos com grandes empregadores da região, com o intuito de encontrar soluções profissionais para o maior número de trabalhadores”.
A CVP acrescentou que está a fazer “um acompanhamento individualizado de cada trabalhador tendo em conta a sua situação socioeconómica” e que, se necessário, os incluirá “no seu sistema de apoio social”.
Em 19 de abril, a CVP anunciou o fecho, até 31 de julho, dos dois lares em Beja, devido às “precárias condições físicas” dos edifícios, e comprometeu-se a “procurar a melhor solução” para os utentes e assegurar “todos os direitos” dos trabalhadores.
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