Será o ingresso no Ensino Superior algo obrigatório nos dias de hoje? E será que aquilo que decidimos estudar aos 18 anos tem de ser vinculativo e perene? Não é somente nos reality shows da TVI que os concorrentes têm de fazer escolhas; a vida real também tem as suas e muitas delas bem mais difíceis que eleger um concorrente para ficar automaticamente nomeado.
Na passada segunda-feira, foram publicadas as classificações da 1.ª fase dos Exames Nacionais do Ensino Secundário e hoje, dia 22 de julho, tem início a 1.ª fase de candidaturas ao Ensino Superior. Acredito que, neste momento, muitos jovens se encontrarão num certo estado de desespero e ansiedade, por terem de tomar uma decisão que julgam que moldará as suas vidas para sempre. Questões como “Que curso escolher?”, “Será que me vou arrepender? E se não gostar?”, ou então ainda “Devo mesmo ir já para a faculdade? Ou devo ir, sequer?”, inundam as mentes dos jovens recém-formados no ensino secundário, sendo estas inquietações completamente normais e legitimas.
Primeiramente, acredito que a primeira fase de alvoroço esteja relacionada com uma aparente obrigatoriedade no que ao ingressar numa instituição de Ensino Superior diz respeito. Creio que a razão que conduz a tamanha inquietação advém de uma pressão feita pela sociedade, na medida em que faz com que acreditemos que o sucesso só poderá vir com um diploma. A verdade é que isso não é tão linear quanto tal e é visível se analisarmos alguns dos dados relacionados com o desemprego em Portugal; ter uma licenciatura ou qualquer outro título superior, nem sempre é um garante do emprego que queremos. Pessoalmente, defendo que é importante investirmos na nossa formação e estudar no Ensino Superior, já que isso não só traz benefícios em termos de aperfeiçoamento de competências na área na qual nos estamos a formar, mas também de desenvolvimento pessoal.
No entanto, advogo conjuntamente que cada um deve fazer aquilo que faz sentido para si e com que mais se sente confortável. Alguns sonham ir para a faculdade desde tenra idade e, dessa forma, fazem mesmo questão de continuar os estudos após terminarem o ensino secundário; porém há outros que simplesmente não o têm como objetivo ou que preferem adiar esse momento. Ambos os cenários são válidos, já que estando a escolaridade obrigatória estabelecida até aos 18 anos de idade, a faculdade não tem de se tornar uma prisão para ninguém e muito menos um capricho de outros. Da mesma forma que fazer um ano sabático, seja para viajar, trabalhar, ou somente pensar, seja sinónimo de não querer prosseguir os estudos.
Posteriormente, surge a pergunta “O que devo seguir? Que devo estudar?”. E, como já disse anteriormente, cria-se uma grande pressão em torno disto, justamente por se acreditar que aquilo em que nos vamos especializar terá de ser a área na qual devemos trabalhar para o resto da vida e que, futuramente, outras oportunidades de estudo não surgirão. Não querendo retirar ao tema uma certa importância que o caracteriza e a seriedade com que deve ser encarado, na prática não tem de ser assim. Eu próprio, ao longo do meu percurso académico, passei por diferentes áreas de estudo. No secundário, estive em Ciências e Tecnologias, porque gostava de Matemática, Ciências e Físico-Química e porque me queria formar na área das Ciências ou da Saúde. Acabei por construir a minha formação na área das Humanidades e das Ciências Sociais, tendo-me licenciado em Ciências da Comunicação e, em setembro, começarei, então, o mestrado em Estudos Portugueses.
No fundo, pretendo com isto dizer que é normal não saber o que queremos, como também é natural identificarmo-nos com algo neste momento e cinco anos depois já não. Tenho 21 anos e continuo a querer desempenhar várias profissões em simultâneo, mesmo sabendo que é humanamente impossível. Tenho 21 anos e é a segunda vez que sigo uma área diferente daquela que estudei anteriormente. Tenho 21 anos e continuo a perguntar-me, diariamente, se as escolhas que fiz, tanto passadas como presentes, foram efetivamente as melhores.
Como podem ver, certezas e capítulos encerrados são coisas que não existem na vida. Eu tenho 21 anos e sinto-o, mas provavelmente alguém com 40 anos também o sentirá, e, garantidamente, será assim em relação a muitos outros aspetos da nossa existência, por largos anos. Por isso, lembrem-se que o último capítulo desta obra não fica já escrito. Quando muito, será um epílogo, porque acreditem, daqui a uns anos, estarão vocês ainda a publicar a sequela.
