O presidente da Federação Nacional de Regantes de Portugal (FENAREG), José Núncio, disse hoje que as questões da quantidade da água devem ser mais discutidas e defendeu a construção de uma “barragem grande” no Tejo.
No caso do Alentejo, “as grandes barragens já estarão mais ou menos todas feitas”, embora ainda possam ser efetuados “alguns ajustes”, como subir “um pouco” os paredões das existentes para conseguir “aumentar substancialmente a capacidade de reserva”, indicou.
Em declarações aos jornalistas, em Évora, à margem de uma reunião europeia de entidades gestoras da água que arrancou hoje, José Núncio alertou que a situação do Tejo é que é “um caso gritante” em que é necessário armazenar mais água, pois, não existe “capacidade nenhuma de retenção” nesse rio.
“Apenas temos capacidade de reter 20% das afluências médias anuais no rio Tejo, que é o nosso maior rio”, mas, mesmo estes 20%, são armazenados na barragem de Castelo de Bode, ou seja, “é água para Lisboa, tem um uso muito específico e muito reservado”.
E esta reserva é conseguida através da barragem que é no rio Zêzere, “portanto, no Tejo não temos reserva nenhuma de água”, lamentou, defendendo que “é fundamental uma barragem grande no Tejo”, a qual está estudada e poderia ser “no Ocreza, afluente do Tejo”.
Para a FENAREG, que assume a partir de hoje e até 2025 a presidência da European Union of Water Management Associations (EUWMA), as questões da quantidade de água estão na ordem do dia.
Esse é, precisamente, um dos temas em foco na reunião anual da EUWMA, que decorre em Évora, ao longo do dia de hoje e na terça-feira, afirmou.
“Até agora falávamos muito mais de qualidade da água do que de quantidade de água”, reconheceu, referindo que sobretudo os países do sul da Europa, como “Portugal, Espanha, Itália e parte de França”, têm que se “preocupar com os problemas da quantidade da água”.
De acordo com a FENAREG, os temas da gestão e do armazenamento da água vão estar no centro da presidência portuguesa da EUWMA, “num momento em que a modernização e o consumo racional da água se está a tornar um imperativo à escala mundial, e em particular na Europa devido às alterações climáticas”.
Na reunião europeia, um dos temas em análise vai ser também o plano estratégico que o Governo está a desenvolver intitulado “Água que Une”, que visa “ajudar os vários setores económicos a usarem a água de forma inteligente” e incluirá “um novo Plano Nacional da Água (PNA 2035)”.
“Até ao final do ano, o documento estará cá fora e também não sabemos muito mais, mas o que sabemos é que será uma estratégia transversal”, envolvendo diversos ministérios como o “da Agricultura, do Ambiente e, seguramente, das Finanças e, no fundo, vai tentar rever o Plano Nacional da Água ate 2035”, disse José Núncio.
Nesse novo PNA, o presidente da FENAREG insistiu que é preciso acautelar “a questão das reservas de água”, porque, com as alterações climáticas, “é garantido” que a chuva “vai ser mais irregular” e os fenómenos extremos, como secas ou cheias, serão “seguramente mais frequentes”.
“Portanto, eu acho que [é preciso] estarmos preparados para isso [e], nos nossos climas, isso resolve-se reservando água superficial”, sublinhou.
Da reunião em Évora, realçou, sairá “um documento que depois será transmitido para os governos nacionais”, mas será igualmente “importante para o ‘lobby’ em Bruxelas”, para “tentar influenciar as políticas europeias”.
A EUWMA representa as organizações gestoras de água de 10 estados-membros (Bélgica, Itália, Hungria, Alemanha, França, Espanha, Portugal, Reino Unido, Roménia e Holanda).
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