No outro dia ouvi esta ideia que me ficou na cabeça: “Se deixares de publicar nas redes sociais é como se desaparecesses”. Ao mesmo tempo que a ouvia, concordava e assustava-me. Parece que atualmente temos de fazer dois lutos, o desaparecimento das redes sociais e o físico.
Conectei esta frase ao que muito ouvimos sobre as ilusões deste mundo encantado. E agora tudo faz mais sentido.
O nós fingirmos um sorriso quando não queremos para postar um story, o martírio que é escolher entre 56 fotos porque o nosso diálogo interior teima que, na última foto que postámos, o braço não estava tão rechonchudo.
É a forma de dizermos:
“Estou aqui! Posso estar morto por dentro, mas aqui!”.
O nosso ego faz-nos muitas vezes viver aquilo que não queríamos, mas o que achamos que vai agradar mais ao outro. É preciso uma desconstrução enorme para viver de outra maneira. E quem a consegue, esse sim, descobriu a pólvora.
Mas, voltando ao mote deste solilóquio. A pressão que vivemos é para não deixarmos que se esqueçam de nós, sobretudo se estamos longe. Deixamos que os likes nos guiem porque conforta-nos saber que houve pessoas que perderam segundos a clicar duas vezes nas nossas fotos. Gostamos de saber que muitos viram os nossos stories, mesmo que só algo muito chocante os faria parar. Mas nós perdemos o tempo a arranjar a música mais bonita porque queremos que saibam que somos ecléticos, ouvimos J. Balvin, mas também sabemos apreciar um Shostakovitch.
Quando, na verdade, ninguém quer saber.
As redes sociais deviam ser um espelho de nós, do que somos ou queremos ser. E quando não estamos bem, às vezes, mais vale ignorar esse espelho.
Como não tenho coragem para acabar sozinha, pedia aos leitores que alguém encomendasse o meu assassinato, deixo aqui o meu perfil: @marianasgsantos.