Há algo místico no Alentejo, que a ele ninguém lhe fica indiferente.

Às suas tradições, às suas gentes, à sua comida, à sua bebida, à sua mentalidade, à sua simplicidade, à sua pureza… ninguém fica indiferente. Há algo místico no Alentejo… será ele a representação da maneira certa de viver?

Há algo místico que vem de longe, vem das planícies e das histórias que nelas repousam, das árvores centenárias que testemunham gerações, das terras molhadas das lágrimas que saem do labor…

E que privilégio em podermos preservar tudo isto através do Cante Alentejano, que inquieta e desafia o tempo, a memória e a história. Quando o coro se forma, de braços entrelaçados ou de gestos sinceros, um fio invisível liga todos os que somos do Alentejo… e puxa aqueles que não o são, mas que o respeitam.

Hoje, dia 27 de novembro de 2024, comemora-se 10 anos desde que o Cante Alentejano foi reconhecido como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Mas ele sempre foi muito mais: alma, presença e herança.

É impossível a pele não se inquietar de arrepios quando ecoam as vozes dos cantadores, graves e profundas como as raízes de um sobreiro antigo. São vozes que carregam as histórias de um povo, carregam nas sílabas o peso das lutas, o sabor dos dias de trabalho duro e o brilho da leveza deste tão único modo de viver alentejano.

Muitos dizem “o Cante está na moda”… e ainda bem. Que nunca deixe de o estar, mas com o respeito merecido e com a devida responsabilidade. O Cante não é apenas juntar vozes e erguer um poema, é a empatia encostada a um balcão de uma tasca, é a calma e a serenidade com que se vê o mundo, é a essência verdadeira que sobressai enquanto o mundo corre, frenético e distraído.

Sinto um imenso orgulho e uma agitação no coração em pertencer a esta terra que canta. Obrigada aos antepassados que com o Cante eternizaram a nossa identidade. Obrigada aos “novos” que bebem dos “velhos”, esses eternos sábios, que carregam o peso desta herança.

Ao Alentejo não lhe faltam horizontes e a maneira certa de viver e, enquanto houver vozes onde tudo isto cabe, o Alentejo permanecerá no coração do mundo.

Boas gentes fazem boas coisas, dão-me anos de vida e alimentam-me todas as veias.

Obrigada, Alentejo.

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