Há quem, com 80 anos de idade, troque o conforto do sofá pelo desconforto de um carro de todo-o-terreno de competição para andar às voltas numa pista de terra, durante 24 horas ininterruptas. Com o mesmo objectivo, também há quem faça uma viagem de quase duas semanas e mais de 8.000 quilómetros.

Estas são apenas duas das estórias da edição deste ano das 24 Horas TT Vila de Fronteira. Mais do que um evento desportivo, uma imensa aventura que motiva e apaixona profissionais e amadores, diferentes gerações de homens e mulheres, muitos milhares de entusiastas e isto há mais de um quarto de século.

A 26ª edição das 24 Horas TT Vila de Fronteira foi disso exemplo, tendo consagrado, pela nona vez, a equipa luso-francesa da Andrade Competition.

Os muitos respeitosos 80 anos de idade, assim como o conhecimento e a experiência adquiridos, em participações, nos lendários Paris-Dakar, Paris-Moscovo-Pequim e Paris-Cidade do Cabo, valorizam, ainda mais, as palavras de Yves Morize. Um bem-sucedido empresário francês do sector automóvel que, pela enésima vez, não resistiu ao desafio das 24 Horas TT de Fronteira: “Para mim, este traçado é o mais bonito do mundo. É uma pista extraordinária, com uma grande variedade de curvas, subidas e descidas. Paisagens de cortar a respiração, com cambiantes de cor e luz que tornam o ambiente mágico. A organização é perfeita, faz um trabalho incrível e sem falhas. E, como se não bastasse, o público é espectacular”.

Mas o apelo e o irresistível desafio de Fronteira explicam-se também em números. Há vários anos que uma equipa percorre mais de 8.000 quilómetros só para alinhar nas 24 Horas TT de Fronteira. Uma viagem de quase duas semanas, entre a Letónia e a vila do Alto Alentejo e vice-versa, só para participar “na melhor prova que fizemos até hoje”, faz questão de sublinhar um dos seus responsáveis. E no currículo desta formação letã estão várias participações no Dakar.

Até em “apenas” 1.440 minutos seria impossível contar as muitas estórias vividas por aqueles que já tiveram o privilégio de participar nas 24 Horas TT Vila de Fronteira, uma organização do Automóvel Club de Portugal. Uma prova em que não há vencidos ou derrotados. Todos, sem excepção, só por aceitarem o desafio são vencedores, embora uns sejam mais felizes do que outros a cumprir o objectivo de verem a bandeira de xadrez.

Equipas francófonas confirmam favoritismo

Pela nona vez na história das 24 Horas TT Vila de Fronteira, a equipa Andrade Competition subiu ao lugar mais alto do pódio, através do luso-francês Alexandre Andrade e pelos franceses Cédric Duple, Yann Morize e Florent Charvot.

Um quarteto que aliou a rapidez à consistência, apesar de não ter tido uma prova isenta de percalços no M.M.C. Proto Nissan. “Mais uma vitória. É sempre o mesmo sentimento. Estou muito feliz por toda a equipa. O Cédric fez um trabalho ‘top du top’. Ao longo da corrida, tivemos vários problemas mecânicos. O motor não está a funcionar bem. O alternador também falhou e tivemos problemas com a gasolina. É uma vitória muito difícil, mas estamos aqui. Vencer em Fronteira é sempre muito especial. São as terras do meu pai”, disse Alexandre Andrade, que não escondeu a emoção e terminou as declarações com a voz embargada.

O segundo lugar foi conquistado pelos franceses Louis Lauilhé, Pierre Lauilhé e Lucas Lambert. Este foi o quarto pódio da formação. “Estamos muito felizes. Viemos com um grande amigo em honra ao meu pai. Este resultado é lindo. Quero agradecer imenso a todos os que nos ajudaram a entrar nesta aventura. Fazer tudo isto e terminar com este resultado é mágico, mas o nosso principal objectivo era mesmo divertir-nos e isso também conseguimos. Em relação ao carro, não foi perfeito, mas o único problema que sentimos esteve relacionado com a embraiagem e a direcção”, explicou Louis Lauilhe, o piloto que viu a bandeira de xadrez.

Aos comandos de um Mitsubishi Pajero, a equipa letã constituída pelos pilotos Igors Skoks, Rudolfs Skoks e Arvis Pikis assegurou a terceira posição, sendo a quarta vez que subiu ao pódio de Fronteira. “A corrida não foi nada fácil, por isso, este terceiro lugar é um excelente resultado. O carro esteve muito bem e conseguimos ser consistentes. Mas também tivemos problemas de aderência e de motor. A pista, este ano, estava incrível. Bem melhor do que no ano passado. Foi muito divertido”, afirmou Rudolfs Skoks.

No quarto lugar, e com a vitória na categoria Challenger, terminou a primeira equipa 100% portuguesa, constituída por Filipe Marques, Ricardo Martins, André Serrano e Gonçalo Oliveira, aos comandos de um Can-Am. Um resultado inesperado, uma vez que foi herdado precisamente na derradeira volta. “Em primeiro lugar, quero dar um abraço à equipa do Amândio [Alves], que liderava à entrada da última volta. Eles foram melhores que nós e não quero deixar de lhes dar um abraço. Mas claro que estou muito orgulhoso da minha equipa e daquilo que montámos, estes anos, para reforçar a cultura da empresa Momsteel. Esta é a festa do todo-o-terreno e nós temos muito orgulho em participar nela”, referiu Filipe Marques.

As formações Marco Martins/Marco Marques/José Martins (Nissan Proto), Jorge Cardoso/Alexandre Cardoso/Marco Cardoso (Can-Am), Denis Olivet/Patrice Couillet/Pierre Couillet/Fernando Malatesta/Fernando Ferrand (Can-Am), Jérome Destringuez/Charles Roches/Hervé Crevecoeur/Benoit Pepe (Can-Am), Sébastien Guyette, Stephane Gilissen/Killian Gilissen/Alexandre Beaujon (Can-Am) e Gaston Hanot/Maxime Hanot/Mathéo Hanot fecharam o grupo dos dez primeiros à geral.

Referência ainda para os sucessos, nas classes respectivas, das equipas João Lourenço/Américo Santos/Carina de Castro/Igor Santos (Stock), Tony Salvatore/Patrick Martin/Pascal Genty/Jerôme Naquar (SSV), Johannes Senders/Stijn Van Erp/Marcelo Paulino/Sjoerd de Bij (Promoção C), Diogo Rogério/André Luís/Luís Ferreira/Bruno Custódio/Lucas Subtil (Promoção A) e Joaquim Serrão/Luís Silva/Diogo Silva/Luís Lino/João Pinheiro (Promoção B), estes últimos ao volante da famosa Peugeot 504.

SSV também deram espetáculo

Recorde-se que, na véspera (sábado), as 4 Horas SSV Vila de Fronteira abriram o programa da grande festa do todo-o-terreno nacional, com os competitivos SSV a proporcionarem um excelente espectáculo aos muitos milhares de espectadores espalhados nos 16,4 quilómetros de extensão da pista.

Vitória de Luís Cidade, um regresso ao lugar mais alto do pódio, depois do triunfo na edição de 2019. “Fiz uma boa corrida. Gosto sempre de vir a Fronteira. Gosto da pista e o terreno estava espectacular”, sublinhou o jovem piloto da Can-Am Off-Road Portugal.

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