Fez agora, no dia 7 de dezembro, 100 anos do nascimento do dr. Mário Soares (1924-2017). Foi ele e a ele se deve – e a gratidão é um valor a cultivar – que Portugal, em 1975, durante o Verão Quente, tenha sido alertado publicamente e defendido do Comunismo ditatorial soviético, nas décadas de 1970 e 1980, a caminho das liberdades. Parece-me que devemos agradecer sempre esse feito notável, principalmente quem defende as liberdades públicas e a democracia, independentemente de partidos – bem sei que foi secretário-geral do Partido Socialista.

Era ateu, eu sou católico. Mas Soares deixou um espaço amplo para as liberdades em Portugal, que não é coisa pouca. É pena que não tenha muitos seguidores na política portuguesa, que vive hoje em tribo e com pouca visão longa e de fundo, reduzindo-se hoje amiúde aos sound bite’s mediáticos. Embora nascido em Lisboa e numa família oriunda de Leiria, conhecia bem o país e a Europa.

Fica claro que se deve destacar na sua duradoura vida pessoal e política, aliás corroborado pelo próprio Mário Soares em entrevista concedida a Fátima Campos Ferreira na RTP, já próximo do fim de vida, a sua acção na defesa e consolidação da democracia e do Estado laico em Portugal, com respeito pelas religiões, e o ter-se afastado os militares da governação do país. Do ponto de vista dos erros estratégicos da sua vida política, consideramos que pode merecer alguma crítica e análise o processo de descolonização – porventura algo caótico pela dificuldade própria da questão, que exigia gente muito preparada a pensá-la e talvez não tenha havido tempo para o fazer, protegendo os legítimos bens das pessoas afectadas.

A formalização do pedido de adesão em 1977 e a entrada na União Europeia, com assinatura do Tratado de Adesão em junho de 1985, no Mosteiro dos Jerónimos, então CEE, parece-nos ser outro dos pontos decisivos da sua estratégia política bem-sucedida. Ainda que, à data, pudesse parece desfasado das necessidades nacionais, a verdade é que se revelou de primordial importância para o funcionamento e apoio da sociedade e da economia portuguesas, como hoje se comprova por todo o país em obras públicas financiadas pelos fundos comunitários para bem-estar da população.

Talvez por seu pai ter tido participação cívica e política – de nome João Lopes Soares (1878-1970), foi capelão da Casa Real em Monarquia e ministro das Colónias já no regime republicano, em 1925 – além das ideologias tinha uma visão de país, de História e de civilização. Era um homem (da faculdade) de Letras, evidentemente. E um dos poucos intelectuais pragmáticos que conheci.

Mário Soares foi um português carismático e bem-disposto, como as suas “Presidências Abertas” demonstram.

Tiago Matias, professor, investigador em História Local e Etnografia, diplomado em Estudos Europeus pela Faculdade de Letras de Lisboa

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