1- Desde o dia em que foi eleito que a simplicidade e proximidade marcaram os seus gestos e palavras. A começar pela escolha do nome, em homenagem a Francisco de Assis. Depois os sinais imediatos de despojamento: quis manter os mesmos sapatos; optou por vestir-se de branco, dispensando as vestes vermelhas; trocou o apartamento pontifício pela Casa de Santa Marta, por não gostar de viver sozinho.

Era um Papa avesso a protocolos, próximo de todas as chagas vivas da humanidade sofredora: migrantes, refugiados por causa das guerras e das profundas alterações climáticas, pessoas estigmatizadas por causa
dos muitos preconceitos sociais relacionados com a orientação sexual das pessoas.

2- Podemos dizer que tinha um estilo “todo-o-terreno”, manifestando desde sempre, a sua preferência pelos mais pobres, desfavorecidos, sem- abrigo, idosos, pessoas doentes e portadoras de deficiência. Francisco optou por um pontificado de proximidade, com muitas visitas surpresa, incluindo a uma loja de discos, a uma farmácia para comprar sapatos ortopédicos e a um oculista para mudar de lentes. Várias vezes desabafou que sentia a falta de andar a pé pelas ruas de Roma e entrar, com amigos, numa pizzaria.

3- Ao longo destes anos, avançou com a reforma da Cúria, apostou na descentralização, defendeu maior colegialidade dos episcopados, a sinodalidade  e até a “conversão do papado”. Valorizou a
responsabilidade dos leigos e uma maior presença feminina na Igreja, incluindo em lugares de decisão e Dicastérios do Vaticano

4- Documentos que nos legou: Encíclicas e Bulas
Nestes 12 anos, Francisco escreveu quatro Encíclicas:   Lumen fidei (29 de junho de 2013) , Laudato si’ (24 de maio de 2015),  Fratelli tutti (3 de outubro de 2020)  e  Dilexit nos (24 de outubro de 2024).

De forma respetiva, as cartas dissertavam sobre a fé, a casa comum, a fraternidade e a amizade social, e sobre o amor humano e divino do coração de Jesus.

5- Misericordiae Vultus (11 de abril de 2015) e  Spes non Confundit (9 de maio de 2024)  foram duas Bulas de autoria do Santo Padre. Na primeira, o Pontífice proclamou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia e, na segunda, o Jubileu da Esperança, este Ano Santo que está em vigor na Igreja.

6- Agradeço ao Papa Francisco as suas palavras inspiradoras e transformadoras, dirigidas aos fiéis e ao mundo: o seu convite a viver a fé na alegria e “em saída”, sem medo de abraçar a todos, a sua preocupação com os mais esquecidos, os mais pequenos, os mais necessitados, na consciência de que somos todos irmãos; e também a sua denúncia vigorosa e incansável de uma “economia que mata”,
pondo em perigo o planeta, de tantos conflitos que configuram a “terceira guerra mundial aos pedaços”, bem como dos pecados da própria Igreja, abusos sexuais, de poder, ou económicos.

Agradeço também os numerosos gestos de Francisco que o tornaram um Papa próximo, mas também uma figura que desafia e desinstala. Recordo a sua simplicidade de vida e de trato, o modo como deixava que todos se aproximassem, o esforço para ir ao encontro de todas as periferias, geográficas e existenciais, a humildade com que vivia a sua fé e a sua devoção, em silêncio diante da imagem de Nossa Senhora, sentado no confessionário ou expondo diante das câmaras a sua fragilidade.

Agradeço as visitas que fez a Portugal 12 e 13 de maio de 2017 onde ficou célebre a frase: “TEMOS MÃE” e canonizou os pastorinhos Francisco e Jacinta e a JMJ em agosto de 2023 onde se tornou viral o que disse aos jovens: “Repitam comigo: Todos, Todos, Todos”, para ensinar que todos temos lugar na Igreja, que as portas estão abertas para todos e que a santidade é caminho de felicidade para todos . Agradeço o seu empenho em promover a Paz, em denunciar a guerra atual em tantos países do mundo. , (mensagem Urbi et Orbi no dia de Páscoa).

7- Obrigada Francisco: Considero-te o meu garante espiritual, meu irmão e, como eu, “Peregrino da Esperança” .Inspiraste-me a escutar e a caminhar aos lados dos pobres, dos excluídas, dos deslocados e dos sem voz. Francisco mostrou-nos que a esperança cristã não é evasiva nem alienante, ela compromete-nos e responsabiliza-nos. Cheia de gratidão, quero continuar a inspirar-me nele em fidelidade à justiça do Evangelho.

8- Para ti, Francisco. as minhas últimas palavras:
A tua vida foi fermento. A tua morte, semente. O teu legado, caminho.

Maria de Fátima Magalhães stj

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