Começo a denotar um certo padrão nas segundas-feiras. Não só costumam ser o dia mais triste para o mais comum dos mortais, sendo agora também caracterizada por momentos que abalam o país e o mundo. Ontem, segunda-feira, dia 28 de abril de 2025, a Península Ibérica foi abalada por um apagão massivo que deixou Portugal e Espanha “às escuras” por umas quantas horas. E, já na segunda-feira passada, o país e o mundo receberam a notícia da morte do chefe da Igreja Católica desde 2013, o Papa Francisco. Oxalá, dia 5 de maio não reserve nenhum fenómeno imensamente impactante.
Às 11h33 do dia de ontem, estava a terminar de redigir um email quando a minha internet falhou, no entanto, os nossos smartphones, felizmente, são dotados de uma funcionalidade chamada dados móveis que é bastante benéfica. Seguidamente, telefonei à minha mãe para saber se também tinha luz no seu local de trabalho, pergunta à qual a resposta foi negativa; dessa forma, chegámos à conclusão que poderia ser um corte de luz da mesma tipologia que aquele que tinha acontecido há uns dias atrás, pelo
que não houve motivo de alarme. O alarme chegou quando, num grupo de Whatsapp que tenho com amigas da faculdade que vivem em Lisboa, uma delas me disse que o metro estava sem eletricidade e os semáforos do Marquês não estavam a funcionar; amiga essa que uns minutos depois escreve “E Madrid tb”, e aí percebo que o cenário poderia ser pior que aquilo que parecia.
Poucos minutos depois, começaram a chegar as notificações dos órgãos de comunicação, assim como as publicações nas redes sociais, a confirmar precisamente este corte de luz massivo na Península Ibérica e no sul de França, cujas causas eram desconhecidas e cuja solução ainda não estava próxima. Começaram a surgir preocupações maiores, seja a nível doméstico, por frigoríficos e congeladores desligados, seja a nível de superfícies e demais entidades, desde hospitais, farmácias, INEM, supermercados, entre outros.
Face a este cenário, tinha duas opções: ou ficava em casa, com a cabeça enfiada nos livros (já que bateria de computador era algo a poupar), ou ia aproveitar o lindo dia primaveril que estava (outro pensamento que tive: e se isto tivesse acontecido num dia cinzento?). E, justamente, uma das conclusões que se tirou desde momento atípico cinge-se ao tempo excessivo que passamos à frente dos ecrãs; no dia de ontem, houve pessoas que saíram à rua para além do dito “essencial”, pessoas que se reuniram fora
casa e que conversaram horas a fio, crianças e jovens que brincavam na rua e viveu-se um serão que, ainda escuro, teve muita luz. Após regressar às redes sociais, pude ver a forma como, alegremente, imensas pessoas manifestavam a fragilidade da condição humana e também a nostalgia sentida, por termos regressado, de certa forma, “aos tempos antigos”. Não deixa de ser uma perspetiva válida, à qual subscrevo em quota- parte, pois, pessoalmente, creio que há formas bem melhores de verificar e viver isto sem ter de temer que o leite azede no frigorifico ou sem saber quando voltarei a tomar
um banho em condições.
Em contrapartida, temos também a parte negativa do acontecimento: a imprudência. Eu compreendo que este tipo de situação possa deixar as pessoas mais ansiosas alarmadas e o instinto primordial do ser humano é, e sempre será, o da sobrevivência. No entanto, expliquem-me o sentido de esvaziar determinadas secções de supermercados ou de fazer filas nas gasolineiras. Quando detetados os primeiros casos de COVID-19 em Portugal, a corrida aos supermercados foi igual, e para quê? Creio
que nunca terão faltado bens de primeira necessidade. É evidente que sem energia, não seria possível abastecer os nossos veículos, mas numa situação destas, ainda que prolongada, iríamos deslocar-nos assim tanto? Íamos colocar o carro à porta de casa e utilizá-lo como fonte de energia? Há assim tanta gente com geradores em casa e eu sou o único antiquado que não tem um? Reconheço que é importante ser-se prudente e precavido, mas aliado a isto é concomitantemente importante estar devidamente informado. Em situações como esta é normal que comecem a circular centenas de mensagens alarmistas ou a desenvolver-se infundadas teorias da conspiração. Atitudes como estas provam justamente que a população não está preparada para um tipo de catástrofe verdadeiramente grave e que é facilmente manipulável, já que ao início da tarde muitos órgãos de comunicação social já noticiavam uma estimativa de tempo necessária até à regularização do fornecimento de energia elétrica.
Este momento ficará, certamente, registado na memória de muitos durante imenso tempo. Eu próprio tive alguma dificuldade em lidar com ele, uma vez que várias pessoas do meu círculo e importantes para mim, com quem falo diariamente, vivem a cerca de 200km de distância. Julgo que mais que refletirmos sobre as nossas fragilidades e sobre o estilo de vida que temos, é simultaneamente importante cogitar
sobre a maneira como recebemos e tratamos informação e sobre a confiança que temo nas autoridades competentes. A luz pode ter-se apagado, mas o nosso bom senso não tem de se apagar também.

