O vereador da CDU na Câmara de Campo Maior, Paulo Ivo Almeida, vai repetir a candidatura pela coligação liderada pelo PCP à presidência do Município nas eleições autárquicas de 26 de Setembro.
Natural de Campo Maior, Paulo Ivo Almeida, de 40 anos, é engenheiro técnico civil e exerce, no actual mandato, funções de vereador sem pelouro na Autarquia campomaiorense.
Foi membro da Assembleia Municipal no mandato de 2013 a 2017 e faz parte da direcção da Casa do Povo de Campo Maior e da Direcção Regional de Portalegre do PCP, integrando ainda a Comissão Concelhia de Campo Maior do partido.
Nesta entrevista ao “Linhas”, Paulo Ivo Almeida analisa a situação actual do concelho e revela as principais propostas do seu programa eleitoral.

Depois de “uma avaliação daquilo que foi o trabalho” dos 16 eleitos da CDU na Câmara, na Assembleia Municipal e nas Juntas de Freguesia, e após o “convite da concelhia do PCP de Campo Maior”, Paulo Ivo Almeida decidiu voltar a candidatar-se à Autarquia campomaiorense, desta feita com uma equipa “bastante renovada”, em que “cerca de 30 por cento dos elementos não integrava as listas há quatro anos”.
“Embora o cabeça de lista à Câmara seja o mesmo, existe essa clara renovação e qualquer um dos outros cabeças de lista não o foi há quatro anos”, disse ao “Linhas”, acrescentando que a equipa é também constituída por “muita gente nova, com 40 ou menos anos”.
O candidato explicou que esta renovação aconteceu porque “houve alguns elementos que deixaram de estar em Campo Maior, como foi o caso do Joel, cabeça de lista à Assembleia há quatro anos”.
“Entendemos que não seria justo para os campomaiorenses estarmos a colocar à consideração deles ser aquele representante, em concreto, na Assembleia Municipal, sabendo, à partida, que não estará em Campo Maior nos próximos tempos. Achamos que devemos ser claros e a equipa que apresentamos deverá ser aquela que, no nosso entender, tem condições para, durante os próximos quatro anos, gerir os destinos de Campo Maior”, frisou.
Por outro lado, “houve também algumas trocas estratégicas de alguns elementos” que desenvolveram “um bom trabalho”, mesmo, “alguns deles”, sem terem sido eleitos.
“Por exemplo, a nossa cabeça de lista, este ano, à Freguesia de São João Baptista, Ana Cristina, era um elemento que foi segunda candidata à Câmara há quatro anos e já me substituiu algumas vezes em reuniões de Câmara. Trata-se de uma pessoa que já demonstrou muita capacidade, também a nível profissional nas funções que desempenha, em concreto como professora e explicadora. No caso da Expectação e da Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Graça dos Degolados são elementos que não pertenciam às listas há quatro anos, mas acreditamos que são uma clara mais-valia não só para a CDU mas também para assegurar os destinos dessas freguesias durante os próximos quatro anos”, vincou.
Sobre o trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos, Paulo Ivo Almeida referiu que “a CDU apresentou, nos diversos órgãos, propostas no sentido de melhorar aquilo que é a vida e o bem- -estar dos campomaiorenses”.
Mesmo na oposição, a CDU “não acha que está tudo mal, mas também não acha que está tudo bem”. “Houve situações pelas quais nos debatemos muito ao longo do mandato, como foi a atribuição do suplemento de penosidade e insalubridade a alguns assistentes operacionais. No caso, por exemplo, de quem trata com resíduos urbanos, foram assistentes operacionais que, mesmo ao longo deste período de pandemia, sempre asseguraram essa recolha dos resíduos urbanos. Eu entendo que é de toda a justiça esse suplemento”, afirmou.
No que diz respeito à “concessão da água”, a CDU constata que, “sistematicamente, os valores apresentados para as renovações tarifárias são incrementados, à excepção do último ano em que houve uma redução, mas uma coisa insignificante para a carteira dos campomaiorenses”.
De acordo com Paulo Ivo Almeida, “o que é certo é que os campomaiorenses, com base numa decisão política, estão a pagar mais caro a água e não têm melhores serviços”, pelo que a CDU exige “uma rigorosa fiscalização dessa concessão”.
“Sabemos que uma reversão unilateral por parte da Autarquia dessa concessão poderia ter custos insuportáveis para o Município. Aqui a questão que temos de verificar é se o contrato com a aquamaior está a ser cumprido por parte da concessionária. Se não estiver, aí poderá haver uma justa causa para a Câmara rescindir o contrato e reverter a gestão da água para o Município”, explicou.
Questionado se há indícios de que a concessionária não esteja a cumprir o que foi acordado, Paulo Ivo Almeida respondeu: “As informações que temos, e onde nos baseamos, têm a ver com os relatórios da ERSAR. Existem diversos parâmetros onde a ERSAR indica que não estão a ser cumpridos aquilo que são os critérios para uma boa gestão. Por exemplo, no caso da reabilitação de condutas, tende a zero. Pelo relatório da ERSAR, a adequação de meios humanos também não é a mais correcta”.
Ainda sobre esta questão, a CDU defende a existência de “um técnico no Município que faça uma gestão efectiva daquela concessão”.
“Juntando os dados da ERSAR, essa gestão por parte do Município e um parecer jurídico, poderíamos ter condições para reverter a concessão. Mas mesmo que não tivéssemos, estamos a meio do prazo da concessão e, mesmo que seja impossível de todo reverter a concessão durante os próximos 15 anos, temos de começar a criar condições, através de uma fiscalização exigente e exaustiva, para que, ao chegar ao fim da concessão, não nos surpreendamos com a existência de condutas e colectores envelhecidos, não sendo imputadas responsabilidades a ninguém”, alertou.
Em relação às “obras públicas” realizadas nos últimos quatro anos, a CDU “concordou” com “a grande maioria delas, ainda para mais sendo obras financiadas, com custos muito inferiores para o Município do que seriam caso fossem feitas apenas com as verbas da Autarquia”. “Apresentámos algumas ressalvas em alguns pormenores específicos, como, por exemplo, no caso da Praça Multimodal, nomeadamente da forma como foi feito o abate das árvores, em que deveria haver uma maior informação para os campomaiorenses”, acrescentou Paulo Ivo Almeida.
No “geral das obras”, a CDU entende que “são mais-valias para Campo Maior”, mas considera que “existem outras que deveriam ter sido feitas”.
Segundo o candidato, “se formos pegar nas obras que foram feitas neste mandato, temos tendencialmente obras viradas para o turismo, esquecendo quem vive na vila os 365 dias do ano”.
Para além de defender a criação de “condições para atrair a população dos arredores”, Paulo Ivo Almeida considera também que é importante “não só aumentar a taxa de natalidade” como “fixar trabalhadores que já estão no concelho”.
O cabeça de lista à Câmara Municipal de Campo Maior entende igualmente que “é necessário haver uma política de melhoria das estradas municipais”, assim como da “Estrada Nacional 373”. “Não sendo da competência da Autarquia, mas, em conjunto com a Câmara de Elvas, fazer pressão junto do Governo, ainda para mais estivemos num mandato em que o partido do Governo era o partido dessas duas Câmaras Municipais. Passados estes quatro anos, não se conseguiu reabilitar a estrada que liga Campo Maior a Elvas. Tudo isto tem influência, até mesmo nesta política de turismo. Se as pessoas querem fazer um roteiro Campo Maior/Elvas/Badajoz, isto falando também da Eurocidade, deparam-se com estradas bastante degradadas, como é a que liga Campo Maior a Elvas. Parece que é um contra-senso”, disse.
No que diz respeito ao estado em que se encontram as estradas municipais, “a resposta” que é dada à CDU é que “se aguarda por fundos comunitários”. “Nós não entendemos que uma necessidade que é imediata, se esteja a colocar nas mãos de Lisboa ou de Bruxelas. Campo Maior, sendo um concelho industrial, é também um concelho agrícola e há a necessidade de os produtores conseguirem chegar aos campos de cultivo”, sublinhou.

As propostas da CDU

Abordando mais detalhadamente as propostas da CDU, Paulo Ivo Almeida começou por defender que o Município deveria “reunir com os proprietários do edifício da antiga Moagem” para “chegar a um acordo” e “recuperar” aquele imóvel.
“A ideia que temos para aquela zona seria a criação de um Centro Multigeracional, onde pudéssemos, num espaço, incluir as várias gerações e os vários saberes, ou seja, um espaço virado para as crianças, onde lhes poderíamos ensinar aquilo que os mais experientes nos conseguem ensinar, como, por exemplo, a fazer as flores de papel. Para além disso, haver também um espaço para os jogos tradicionais, que os mais idosos gostam muito. Finalmente, dar também algum espaço verde àquela zona, porque é um sítio central de Campo Maior e é uma pena o estado de degradação e de insalubridade em que se encontra neste momento”, referiu.
Em “paralelo com essa obra”, e “uma vez que se encontra na mesma artéria”, outra ideia seria a “reabilitação da Avenida Calouste Gulbenkian”. “Se o estacionamento e a circulação já eram complicados, agora, com a deslocalização de uma das farmácias de Campo Maior para essa artéria da vila, mais complicado ainda se torna. Entendemos que, sendo uma das artérias principais da vila, merece uma recuperação urgente”, frisou.
Ainda ao nível do Centro Histórico, a CDU defende que, “para além da reabilitação das habitações, têm der ser criadas condições para que as pessoas possam usufruir do espaço”.
“Existe uma zona, que tem cerca de um quarto do perímetro urbano da vila, onde não conseguimos encontrar, por exemplo, um restaurante, onde encontramos uma mercearia… Quando nos centros históricos vivem essencialmente pessoas de maior idade, deslocar-se às grandes superfícies na periferia da vila pode não ser fácil. Portanto, temos de criar condições para que as pessoas aí vivam. Não podemos obrigar ninguém a abrir uma mercearia naquela zona ou um restaurante, mas se se criarem as condições, quer de espaço, quer de licenças de utilização, quer de segurança para aquela zona, o resto vem por acréscimo”, afirmou Paulo Ivo Almeida.
Do programa da candidatura faz igualmente parte a “remodelação da Semana da Juventude”, denominada Raya Jovem. Segundo o cabeça de lista, “deve haver uma maior oferta cultural e desportiva do que ser apenas aqueles três dias no período da noite, em que temos música e bares”.
A CDU também “pretende apoiar, dentro daquilo que é possível, os mais idosos e necessitados”. “Apesar de, segundo as estatísticas indicam, o salário em Campo Maior até estar um pouco acima da média nacional, temos reformas muito baixas. Trabalhadores que trabalharam no campo, pessoas que não trabalharam porque trataram dos filhos e, antigamente, isso acontecia muito… Portanto, existem graves problemas em Campo Maior a respeito dos mais idosos e dos mais necessitados”, reconheceu Paulo Ivo Almeida.
Assim sendo, “para além dos espaços de convívio, devia haver também um apoio a nível de deslocações médicas e de aquisição de medicamentos”. “Já existe o Cartão do Idoso, que deve continuar e, se possível, reforçar esse apoio, porque entendemos que é aí que se podem verificar as maiores dificuldades a nível da população de Campo Maior”, disse o candidato.

Medidas para a fixação de pessoas em Campo Maior

Para além de, neste momento, “os nascimentos não compensarem os óbitos”, também há “muitos campomaiorenses que saem para estudar nas universidades e, muitos deles, não voltam”. Posto isto, a CDU tem algumas propostas para tentar reverter esta situação, sendo que a medida principal seria “garantir emprego a esses jovens”.
“Teremos de verificar junto das empresas locais a possibilidade de conseguirem atrair esses jovens, porque até são jovens que têm qualificações. Não faz sentido andarmos a formar um jovem durante 12 anos e depois ele sai durante três ou cinco e perde-se todo aquele trabalho que foi feito”, referiu Paulo Ivo Almeida.
Por outro lado, também houve “muitos campomaiorenses que saíram para trabalhar por todo o País e no estrangeiro”, pelo que a CDU “gostaria de abrir a possibilidade de os trazer”, os quais poderiam, por exemplo, desempenhar as suas funções em teletrabalho.
A estratégia para a fixação de pessoas em Campo Maior passa igualmente pela “atracção de empresas”, sendo que a construção da Plataforma Logística em Badajoz poderá representar uma mais- -valia nesse sentido.
“Aqui pode ser uma questão de interesse por parte das empresas não estarem exactamente no foco da acção, mas estarem próximas. Por aí pode haver a possibilidade de algumas dessas empresas que se queiram localizar não na Plataforma, mas nas proximidades da mesma. Há que aproveitar esta oportunidade”, afiançou.

Pista de atletismo em Degolados e praia fluvial na Enxara

Analisando o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a CDU verificou que “existem alguns projectos que podem ser financiados no sentido da revitalização do desporto”.
De acordo com Paulo Ivo Almeida, “isso vai ao encontro de um projecto que a CDU pretende levar a cabo na freguesia de Degolados”, que é a criação de “uma pista de atletismo”.
“Houve um ano em que todas as provas de pista foram feitas em Campo Maior, no Estádio Capitão César Correia, onde existia uma pista de atletismo. Neste momento, mesmo havendo da nossa parte um interesse em que haja uma revitalização do desporto e a atracção de provas desportivas para o concelho nesse campo, estamos completamente limitados. Temos um clube de atletismo, a União de Futebol de Degolados, e caso esses atletas tenham interesse em treinar em pista, têm de ir a Elvas”, lamentou.
Ainda “a nível destes fundos”, e “havendo também essa oferta para os centros históricos”, a CDU tentaria “enquadrar a reabilitação do edifício da antiga Moagem nesse projecto, assim como a reabilitação de toda a Avenida Calouste Gulbenkian”.
“Estes são os três projectos que temos mais estruturantes para este mandato. Depois existem muitas outras obras que há necessidade de serem efectuadas, mas, dado o volume, não entendemos que careçam, efectivamente, de fundos comunitários para as realizar. No entanto, se a oportunidade surgir, é claro que a iremos aproveitar”, afirmou o candidato.
Outra proposta da CDU, a qual também já fazia parte do programa de há quatro anos, é “o estudo da viabilidade de uma praia fluvial no concelho, que poderia dinamizar e revitalizar Ouguela, no caso de se optar pela zona da Enxara”.
“Tudo teria a ver com a estrutura arquitectónica que se optasse por executar. Temos ‘n’ praias fluviais em rios, algumas delas até a atravessar localidades. Portanto, não veria aí um inconveniente. Claro que teria de ser preservado e melhorado o meio ambiente. A ideia seria, com a execução dessa praia fluvial, poder alargar aquilo que é o espaço de usufruto de quem visita, não só àquele espaço onde se situa efectivamente a areia, mas alargar a todo o espaço para que se possa usufruir do meio ambiente da zona envolvente à ribeira com todas as condições de segurança”, explicou.
Na vertente cultural, a CDU entende que “deve haver uma maior oferta no Centro Cultural”, tanto a nível da “diversificação daquilo que são os filmes exibidos” como “do teatro”.
“Existe o Mês do Teatro, em que, efectivamente, surgem algumas peças, mas depois o restante ano a oferta é muito escassa para não dizer inexistente”, referiu Paulo Ivo Almeida.
Para os jovens, o candidato defende a criação da Casa da Juventude, um espaço que se destinaria a acolher iniciativas e actividades direccionadas para esta faixa etária.
“Se conseguíssemos a recuperação do edifício da antiga Moagem, a Casa da Juventude seria enquadrada nesse Centro Multigeracional. Caso não consigamos, teríamos de verificar os edifícios do Município e ver qual teria mais condições para se adequar, porque até há a possibilidade reorganizar serviços e libertar algum edifício”, precisou.
Também na área da juventude, a CDU entende que “deve ser melhorada a política das bolsas de estudo para os jovens”, uma vez que, “neste momento, existe uma clara injustiça entre alunos de mestrado integrado e alunos que vão tirar o mestrado e que já têm a licenciatura, porque esses, pelo regulamento, não podem concorrer à bolsa”.
Sobre o desfecho do próximo dia 26 de Setembro, Paulo Ivo Almeida não quis revelar o que, para si, seria “um bom ou mau resultado”.
O candidato entende, no entanto, que a sua equipa “tem toda a capacidade para assumir, em todos os órgãos, aquilo que forem as responsabilidades que os campomaiorenses atribuírem”.
“Espero que o eleitorado da CDU continue a rever-se nesta equipa renovada que apresentamos a todos os órgãos do concelho. Uma coisa é certa: quer seja apenas com eleitorado da CDU, quer seja com eleitores do PSD, do CDS ou do PS, nós iremos trabalhar para todos os campomaiorenses”, garantiu.
Questionado em quem votaria se não fosse candidato, Paulo Ivo Almeida respondeu: “Eu entendo que a campanha é um período muito sério e em que devemos prestar todos os esclarecimentos e apresentar aquilo que são as nossas propostas aos campomaiorenses. Estar a escolher antes de ouvir o partido A, B ou C, seria totalmente contraditório a tudo o que eu frisei atrás”.

Entrevista conduzida por Nuno Barraco

Carregar mais artigos relacionados
Carregar mais artigos por Redacção
Carregar mais artigos em Actual

Veja também

Está a precisar de abastecer? Saiba se vai haver alterações no preço dos combustíveis

Se está a precisar de abastecer, saiba se vai haver alterações no preço dos combustíveis n…