A escassez de vocações sacerdotais ou para o matrimónio cristão levou a Província Eclesiástica de Évora a lançar um alerta, através de uma carta pastoral, que traça um panorama sombrio da situação vivida nas dioceses do Sul do país.
“Queremos compartilhar convosco a nossa preocupação face à urgente necessidade de vocações ao matrimónio, aos serviços ministeriais e ao ministério ordenado do diaconado permanente e do presbiterado”, começam por escrever o arcebispo de Évora, Francisco Senra Coelho, e os bispos de Beja e do Algarve, João Marcos e Manuel Quintas, respetivamente, na carta pastoral dirigida aos fiéis daquelas regiões, intitulada “Vem e Segue-me!”.
“Se olharmos atentamente para os presbitérios das nossas dioceses, verificamos que nesta primeira vintena de anos do século XXI, os presbíteros continuam a diminuir. A diocese do Algarve ordenou dezasseis presbíteros, enquanto faleceram vinte, e dois foram dispensados pelo Papa das obrigações sacerdotais. Na diocese de Beja, ordenaram-se vinte e um presbíteros e faleceram vinte e seis e foi ainda concedida pelo Papa Francisco uma dispensa das obrigações sacerdotais. Na arquidiocese de Évora, ordenaram-se nos últimos vinte e um anos dezasseis sacerdotes, faleceram quarenta e nove padres e dois presbíteros foram dispensados das obrigações sacerdotais”, revela a carta pastoral.
No documento, é também indicado que “o Seminário Nossa Senhora da Purificação de Évora, onde se preparam os futuros presbíteros destas três dioceses” tem 13 seminaristas, “dos quais dois são do Algarve e seis de Évora, sendo os restantes de outras dioceses” não pertencentes à Província Eclesiástica de Évora.
Os três prelados lembram, por outro lado, “as dificuldades que os jovens enfrentam face ao mundo do trabalho: a instabilidade ou inexistência de vínculos laborais estáveis; as necessárias mudanças de emprego, não segundo a preparação e adaptações pessoais mas consoante as possibilidades reais do momento; dificuldades em se identificar com uma profissão concreta e, em muitos casos, não correspondente à preparação técnica, científica e pessoal; a reduzida remuneração auferida, incapaz de possibilitar a constituição de uma família e a desejada procriação, quantas vezes adiada, bem como a emancipação da casa e do sustento dos pais”.
Os responsáveis católicos das três dioceses do sul de Portugal mostram-se “conscientes que esta dificuldade de inserção das novas gerações no mundo profissional dificulta a concretização da vida matrimonial, o que contribui para a desertificação populacional do país e para a concentração das novas gerações nas grandes cidades litorais do país” ou leva à emigração.
“Perante este contexto, podemos falar de uma crise vocacional na sociedade e na Igreja”, lê-se na carta pastoral, que anuncia a convocação das três dioceses para um “biénio vocacional”.
Este projeto visa “unir as três dioceses do Sul num forte dinamismo pastoral que coloque a realidade/pastoral vocacional numa dimensão transversal às demais áreas pastorais das dioceses”, reconhecendo que aqueles territórios “vivem situações semelhantes: poucas vocações, diminuição dos ministros ordenados e dos consagrados. Vivem, igualmente, uma situação preocupante no que respeita ao número de matrimónios consagrados e participação dos cristãos nas nossas comunidades”.
Em cima da mesa, para já, está colocado o objetivo de “refazer e revitalizar os departamentos/secretariados das vocações, com a finalidade de gerarem um trabalho em rede com as paróquias e as vigararias/arciprestados”, aproveitando “o entusiasmo e ações no caminho para a JMJ [Jornada Mundial da Juventude] como forte meio de ação vocacional.

Carregar mais artigos relacionados
Carregar mais artigos por Redacção
Carregar mais artigos em Destaque Principal

Veja também

Administrativo acusado de consultar 384 vezes dados clínicos de familiares em Badajoz pode ser condenado a 16 anos de prisão

O Jornal la Crónica de Badajoz está a dar destaque a um caso em tribunal que envolve um fu…