Foi a 12 de janeiro do ano de 1633 que um rei e uma rainha se olharam e casaram em Elvas. Em rigor ainda não eram reis. Mas viriam a ser. O dia estava chuvoso.

Refiro-me ao casamento de D. João, Duque de Bragança, que habitava em Vila Viçosa, e de D. Luísa de Gusmão, fidalga espanhola nascida em Sanlúcar de Barrameda, com ascendência portuguesa, que viria a ser decisiva no futuro da organização política nacional. O duque era filho de D. Teodósio de Bragança e a duquesa era filha do 8º Duque de Medina Sidónia.

O Duque de Bragança vem a ser aclamado em Lisboa e será o Rei D. João IV, que é, como sabemos, o Restaurador da independência em 1640.

Porquê em Elvas? “He de saber antes de proseguir, que antes de rezolver o duque donde se despozaria, foi vezitar a sua exçelencia o bispo de Elvas Dom Sebastião de Matos de Noronha e offeresseu sua exçelencia ser ele menistro de sua união e matrimonio e sua caza, e o gasto dos que fossem servindo e acompanhando a sua exçelencia aceitou o duque e rezolveu sua partida aa cidade de Elvas.” (cf Maria Teresa Oliveira «Relação do casamento do Duque de Bragança, D. João II, com D. Luísa Francisca de Gusmão (1633)» Fragmenta Histórica – História Paleografia e Diplomática (2020) Nº 8).

O noivo, ainda longe de ser rei, chegou na véspera, dia 11 de janeiro, foi recebido solenemente pela corregedoria de Elvas, pernoitou na cidade com os irmãos e houve luminárias e foguetes por toda a cidade. Foi encontrar-se com a noiva no dia 12 que vinha do reino vizinho via Badajoz e celebraram o matrimónio na Sé de Elvas às duas horas da tarde – é a actual Igreja de Nossa Senhora da Assunção. E acabada a missa com o bispo e o cabido houve muitos músicos e instrumentos. Sabemos também que “toda a gente inferior do servisso de suas excelências, portugueses e castelhanos, que foi muita, comeo em caza do bispo…”.

O Bispo de Elvas esperou o duque no lugar de Mesa d’el Rei, a meia légua de Elvas, acompanhado por Luís de Miranda Henriques e Rui de Mattos de Noronha, com criados e mais de sessenta homens nobres de Elvas. O documento da Relação do Casamento descreve-os “todos vestidos de veludo negro, com cadeas e galas competentes, sentilhos de ouro, espadas douradas, etc. e hião em muy bons cavalos todos.” O que revela a dimensão e pujança económica e social de Elvas no século XVII.

O casal seguiu ao fim do dia 12 de janeiro para Vila Viçosa, localidade do seu paço ducal – que merece uma visita – onde houve oito dias de festa e de onde anos mais tarde seriam chamados a reinar em Portugal.

Diz a tradição: “boda molhada, boda abençoada”. Elvas testemunhou assim um matrimónio que o futuro e a História elevaram à condição régia e que a população conheceu de perto.

Votos de bom ano pós-pandémico de 2022.

Tiago Matias licenciado em Estudos Europeus (Faculdade de Letras de Lisboa)

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