Raízes dos que o são e não são
Quando à amizade se resume
É a vida em ascensão
É a voz com calor
Para quem sabe viver
As Raízes com Amor
Um fim de semana com mais alma alentejana era impossível.

Refiro-me aos dias 3 e 4 de junho, no Coliseu de Lisboa e no Capitólio. Os protagonistas foram os D.A.M.A, o Buba Espinho, os Bandidos do Cante, os Los Romeros, o Vitorino, o Luís Palha, o António Zambujo, o Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento, os Oh Laurinda, os Cantadores do Alentejo e o Luís Trigacheiro. Mas reforço com a mesma importância que os protagonistas também são todos aqueles que completam os versos com entrega e entusiamo e os que de instrumentos afinados fazem a magia acontecer. Os protagonistas também são todos os que dão muitas horas para preparar estas obras abertas ao público. A eles o meu mais sentido obrigada. A eles o meu mais profundo respeito. A eles, tudo o que aqui está escrito.

É possível falar do Alentejo quase como uma seita, no sentido mais positivo da palavra. Quando do Alentejo se destaca as suas tradições, a sua cultura, as suas gentes, a sua comida, a sua bebida, a sua mentalidade, a sua simplicidade, a sua pureza, ninguém fica indiferente.

É quase como irem ao Alentejo, sem lá irem. Ou sentirem-no, sem o ser. As palavras, as canções, as melodias, as histórias têm o poder de fazer as pessoas sentir algo sem o serem.

É clichê dizer-se que o amor só se sente e se materializa em momentos, em ações. É um assunto sério este do amor. É um assunto sério este da vida. É um assunto sério este de contar histórias com respeito e orgulho.

Por ser sério, confesso que foi difícil escrever isto. Não por falta de ideias, vontades, inspirações na minha cabeça, mas por reconhecer a responsabilidade que é ser, viver, sentir estes momentos. A responsabilidade que é replicar o que se sente. Falar de sentimentos é difícil e as pessoas recusam o processo.

O que aconteceu nos dias 3 e 4 de junho, no Coliseu de Lisboa e no Capitólio, respetivamente, foi assumidamente dizer em voz bem alta o quão importante é reconhecer de onde viemos. Foi o confirmar no tom mais certo possível, que tudo pode permanecer bem vivo, se houver pessoas a querê-lo. Foi a expressão de que é tudo mais bonito quando em união e amizade. Foi o amor em mostrar que as raízes serão sempre as raízes.

Gentes boas fazem coisas boas. Um brinde àqueles que com raízes alentejanas as levam mais além, àqueles que sem as terem as reconhecem e contribuem para que não morra o que marca a vida, àqueles por fazerem o que fazem e da maneira que o fazem. A vida e os dias não se resumem ao que se faz. Não se trata do que se entrega materialmente. Não se trata de ter duas salas de espetáculo icónicas a cantar tudo a uma só voz, mas sim de ser tudo com um único amor. O que se leva é o amor, o respeito e o orgulho.

Chego até aqui e sinto-me incompleta e numa tamanha injustiça por não conseguir expressar em palavras tudo o que foi sentido. A forma mais bonita de o fazer é pelo brilho no olhar, pela voz tremida, pela pele arrepiada, pelo coração bem quentinho. Enquanto houver amor e um sentimento a casa, a poesia terá espaço e a melodia será livre.

Partilho dois testemunhos das duas pessoas que foram comigo aos espetáculos: uma dizia o quão arrepiante foi o momento e eu confirmei quando olhei para ela; a segunda referia o poder da mesa, a magia do ser alentejano e em que tudo se resume a “Anda que cabes aqui também.”

O cante é isto. É caberem todos.

Ser Alentejo é caberem todos.

É bom ser alentejana e ainda sabe melhor quando existem pessoas que se orgulham do mesmo e fazem questão de o levar mais além. Imensamente feliz, a cantarolar o que sei, digo que também me sentei à mesa e a história fez-se.

Termino, com o desafio de se deixar que mais pessoas se sentem à mesa, nesta mesa. As salas de espetáculo do Alentejo, leia-se também a de Elvas, anseiam isto e estou certa de que a sua categoria e capacidade fazem jus à grandeza e importância destes dois eventos referidos.

Aí será o verdadeiro significado de “Raízes com Amor”.

Quem à mesa se senta
Sabe que é um caminho sem fim
A tertúlia que representa
E vai mais um copo, enfim…
O menu são histórias
Quem as interrompe é rei
Aí vem mais uma

E uma nova música farei

Leonor Abelha Terrinca
(Licenciatura em Relações Públicas e Comunicação Empresarial pela ESCS e Mestrado em Comunicação Estratégica e Liderança pela UCP)

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