Os tempos da ditadura ainda estão bem presentes na memória da maioria dos eleitores do concelho de Avis, um ‘bastião’ comunista que tem resistido graças às lutas que foram travadas na região.
O medo de a direita vencer as legislativas de 2022 terá levado uma parte dos eleitores a votar no PS, que obteve naquele concelho uma vitória histórica, mas no próximo dia 10 de março os eleitores da Coligação Democrática Unitária (CDU), que junta PCP e PEV, acreditam no regresso às vitórias.
Em declarações à agência Lusa, Leonor Xavier, militante comunista desde finais dos anos 70 do século passado, recorda que a CDU tem força em Avis e alcançou há dois anos no concelho 30,80%, a maior percentagem da coligação a nível nacional, porque foi naquela região que se travaram “grandes lutas” contra o regime fascista.
“O PCP tinha aqui grandes lutas, travaram-se grandes lutas pelas oito horas de trabalho, pelo direito ao trabalho. Foi muita gente do concelho de Avis presa nas prisões fascistas e isso também levou a que as pessoas lutassem”, recorda.
Para Leonor Xavier, o trabalho desenvolvido pelos comunistas desde 1974 no município é outros dos “segredos” para as vitórias alcançadas nos diversos atos eleitorais.
Na União de Freguesias de Alcórrego e Maranhão, José Manuel Traquinas, antigo trabalhador agrícola, recorda à Lusa que foi o PCP que lutou para que pudesse ter direito a uma reforma.
“Quando foi o 25 de Abril, o PCP foi quem tomou conta aqui desta gente toda, porque nessa altura a gente não descontava para a Segurança Social, não descontava nada, e o PCP é que fez com estas pessoas de certa idade começassem a descontar. É assim que a gente tem uma reforma, embora pequena, mas foi derivado ao PCP”, diz.
O octogenário refere que “a malta tem votado e continua a votar no PCP” localmente, embora agora os votos não sejam tantos: “A maioria dessa gente que votava no PCP… têm morrido todos.”
António Pinto, militante comunista “desde a primeira hora”, diz, por sua vez, que o PCP “defende os trabalhadores” e recorda que no tempo do fascismo andava “castigado” pelo trabalho no campo.
“Andava aí castigado por esses lavradores e por esses malandros que cansavam aí a gente com trabalhar e não davam nada à gente, e o PCP sempre defendeu a gente, sempre”, recorda.
Jorge Borlinhas é presidente da União de Freguesias de Alcórrego e Maranhão há 14 anos, sempre eleito pela CDU. Considera que Avis é um bastião comunista porque é um concelho composto por pessoas que lutaram pela liberdade.
“Aqui, na freguesia, houve muitas pessoas presas no tempo do fascismo e, inclusivamente, muito torturadas. Isso pesa aqui, tem história e as pessoas sempre se reviram na CDU como uma força próxima das pessoas e que as ajudou sempre para poderem ter uma vida melhor”, afirma.
Embora muitos acreditem numa vitória da CDU em março, fica para a história que o PS venceu naquele concelho as últimas legislativas, tendo a coligação de esquerda perdido pela primeira vez desde as primeiras eleições autárquicas e legislativas, após o 25 de Abril de 1974.
Em 2022, o PS alcançou a vitória em quatro das seis freguesias do município, conquistando 38,04% (830 votos), ao passo que a CDU assegurou o segundo lugar, com 672 votos. Num universo de 3.422 inscritos, votaram 2.182 eleitores (63,76%).
Na União de Freguesias de Alcórrego e Maranhão, onde a CDU alcançou a maior vitória em termos percentuais a nível local, a coligação obteve 41,80% (107 votos), num universo de 374 eleitores inscritos e tendo votado 256 (68,45%).
Portugal vai ter eleições legislativas antecipadas em 10 de março, marcadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência da demissão do primeiro-ministro, António Costa, em 07 de novembro, alvo de uma investigação do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça.

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