Dada a importância e a complexidade do tema, confesso que será um pouco difícil para mim não divagar e não trazer vários assuntos à mesa; portanto, caro leitor, prepare-se para uma viagem com uma alguma turbulência.

Após os resultados das eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022, estávamos longe de imaginar que quase 2 anos depois, Portugal estaria a enfrentar outra crise política. Pior que esta situação, arrisco-me a dizer que o mais problemático nestas fases de eleições são a abstenção, as sondagens e o ameaçador crescimento que a extrema-direita está a ter.

Muitos de vós não sabereis, mas além de (e felizmente) ler bastante, falo e escrevo publicamente sobre a minhas leituras, já que considero que não só é importante cultivar-nos intelectualmente, como também partilhar e promover o debate sobre as diferentes interpretações e ilações que fazemos. Dessa forma, trago algumas sugestões de romances e novelas, ainda que um pouco tardiamente reconheço, em que os autores trouxeram um tópico da realidade e o inseriram num cenário de ficção.

Dentro do género romances históricos, ressalvo duas obras impactantes, que não deixam qualquer leitor indiferente, de seus títulos: A Rapariga que Roubava Livros, de MarkusZusak e O Rapaz do Pijama às Riscas, da autoria de John Boyne. A ação de ambas decorre em plena II Guerra Mundial e expõe a miséria, a pobreza e o terror que o fascismo, a ditadura, a censura e o nazismo trouxeram à Alemanha e ao mundo nos anos 40.

Ainda no âmbito das ficções históricas, apresento-vos O Triunfo dos Porcos, escrito por George Orwell durante a guerra anteriormente referenciada. Aqui encontramos uma forte crítica, com recurso à alegoria, à ascensão de Estaline e à forma como os ideais totalitários e revolucionários que este implementou geraram a desordem e a fratura da coesão social.

Migrando para uma perspetiva mais atual exponho um romance, uma novela e uma peça de teatro, que tive a oportunidade de ler em Literatura Inglesa Contemporânea, cujos principais focos são o Brexit. Sumariamente, o Brexit foi o resultado de um referendo proposto pelo UKIP, um partido de extrema-direita inglês, que conduziu à saída do Reino Unido da União Europeia. O Coração de Inglaterra, de Jonathan Coe, A Barata, da autoria de Ian McEwan e My Country: A Work in Progress, transcrita por Carol AnnDuffy e Rufus Norris denunciam as estratégias, o pensamento e as consequências que todo este fenómeno trouxe ao país.

À parte de tudo aquilo que a literatura nos pode fornecer, é simultaneamente crucial informarmo-nos da nossa realidade. Para estas eleições, como já é habitual, foram emitidos, em antena aberta, uma série de debates que, na minha sincera opinião, não foram completamente esclarecedores como deveriam ser. Ainda assim, existem outros meios de comunicação social que têm feito uma intensa cobertura dos acontecimentos, para não mencionar os programas eleitorais publicados no site de cada partido. Aproveito esta premissa para alertar para aquilo que vos é atirado pelas redes sociais; quando consultamos qualquer tipo de informação nestas plataformas, há que estar conscientes de que qualquer pessoa pode anunciar nestes espaços. Ou seja, a possibilidade de estar fora de contexto ou de ser informação falsa é muito elevada, daí ser tão importante adotarmos uma postura crítica e defensiva quando a analisamos.

A História deveria ser uma linha reta, mas, infelizmente, mais parece um ciclo, na medida em que certos acontecimentos parecem estar a repetir-se. Lembrem-se que denunciar o que está errado e prometer mundos e fundos, qualquer um pode fazer. Agora, prometer medidas concretas sem subterfúgios, populismos, sensacionalismos e discursos feitos, poucos o conseguem fazer. Não basta dizer que vamos aumentar penas, cortar em subsídios, fazer um controlo mais apertado das fronteiras ou reverter diplomas relacionados com o aborto, eutanásia ou direitos LGBTQIA+. Caso não tenham compreendido, o problema não está nas leis, nem naquilo que elas propõem; está na precária fiscalização que é feita aquando da execução das mesmas, mas disso poucos falam.

Por fim, apelo a que votem! Seja antecipadamente já no próximo dia 3, ou no dia 10 de março, não deixem passar a oportunidade de exercer este direito que, ao mesmo tempo, é um dever. Este ano celebrar-se-ão os 50 anos do 25 de abril, um dia histórico para o nosso país em que a possibilidade de liberdade e de escolha nos foi dada. Não o exercer é sinónimo de permitir que outros escolham o nosso futuro por nós; é o mesmo que mostrar que não temos uma opinião formada. Recordem-se que o voto em branco também uma possibilidade, já que nem sempre nos conseguimos identificar em grande parte com um determinado partido. A democracia não se faz somente nas redes sociais, meus queridos leitores, também se faz nas urnas! Não deixem que sejam os outros a escolher o vosso e o nosso futuro!

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