Uma associação de defesa do património de Évora alertou hoje para a degradação da fachada e cobertura da Igreja da Graça, construída no século XVI e considerada um “monumento ímpar” de arquitetura renascentista da cidade.
“Há cerca de 10 anos que estão identificadas algumas patologias e é preciso uma intervenção, porque a degradação vai descarnando as esculturas dos atlantes”, afirmou à agência Lusa o presidente do Grupo Pro-Évora, Marcial Rodrigues.
Localizada no centro histórico e a poucos metros da Praça do Giraldo, esta igreja, assim como o Convento da Graça, onde funciona a messe de Évora do Exército, é propriedade do Estado e está afeta ao Ministério da Defesa Nacional.
A Lusa enviou ao Exército, através de correio eletrónico, várias questões sobre o imóvel, mas, até às 14:00 de hoje, não recebeu qualquer resposta.
O presidente da associação de defesa do património Grupo Pro-Évora realçou à Lusa que um dos problemas da igreja está na fachada, nomeadamente nos quatro atlantes, que a população chama de “meninos da Graça”.
“As argamassas vão saindo e as pedras vão ficando descarnadas”, ou seja, “os elementos que as unem vão desaparecendo e há já muito tempo que se veem os ferros que suportam os meninos da Graça”, referiu o responsável.
Segundo Marcial Rodrigues, os outros danos existentes no imóvel encontram-se na cobertura e no sistema de escoamento das águas pluviais, com a existência de infiltrações.
“Estes problemas têm que ser atendidos, porque, à medida que o tempo passa, vão-se agravando”, vincou, lamentando que não haja da parte do Estado “uma intervenção regular de manutenção e preservação deste tipo de imóveis”.
Questionado sobre se existe perigo de queda de elementos da fachada, o presidente do Grupo Pró-Évora disse crer que não, frisando porém que “é sempre um risco”, com a degradação contínua das condições do imóvel.
“Desde que foi extinta a Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais [em 2007] que não há, da parte do Estado, uma intervenção regular de manutenção e preservação destes imóveis e só em situações periclitantes é que há intervenção”, salientou.
Marcial Rodrigues revelou que o Exército, em parceria com outras entidades da cidade, está a preparar uma candidatura a um programa do Turismo de Portugal para obter financiamento que permite realizar obras na igreja.
Évora “ocupou um lugar ímpar no renascimento português” e a Igreja da Graça integra esse período, entre meados do século XV e finais do século XVI, disse o Grupo Pro-Évora.
“Foi projetada pelo arquiteto da Casa Real Miguel de Arruda, tendo colaborado no projeto o escultor Nicolau de Chanterene e, muito provavelmente, o humanista André de Resende”, frisou.
A edificação do atual conjunto da Igreja e Convento de Nossa Senhora da Graça decorreu entre 1536 e 1546.
Segundo a associação, “as esculturas que compõem a fachada, exemplo único na arquitetura nacional da época, correspondem às primeiras manifestações do maneirismo em Portugal, alinhadas com a melhor reinterpretação da arquitetura e iconografia romanas”.
“O reconhecimento do valor cultural e do interesse histórico e arquitetónico desta igreja ficou bem patente na precocidade da sua classificação, pois foi um dos primeiros imóveis a ser classificado como Monumento Nacional (decreto de 16 de junho de 1910)”, acrescentou.
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