Esta semana, enquanto bebia um sumo numa bonita esplanada do centro de Lisboa, ouvi uma
senhora burguesa, com os seus mais de 50 anos, que vive certamente no centro da capital –
em apartamento de renda baixa que pagou sempre de má vontade ao dono da casa que habita
-, talvez minha colega profª, a dizer: “este país não limpa matas.”. Referindo-se claramente à
calamidade dos incêndios florestais.
Terá alguma razão. Lembrei-me porém de quantas matas terá ajudado a “limpar” (não sei se
os habitantes locais/privados aceitariam, orgulhosos como por vezes são mas, isso, é outra
história), apoiando as matas nacionais, em sentido figurado e em sentido literal. É até natural
que nos tenhamos habituado a esse discurso, vendo as televisões portuguesas privadas e
públicas (com excepção da RTP2 que persiste na qualidade e abrangência cultural) sem
qualidade, ouvindo banalidades em programas de horário nobre de entretenimento ou de
desporto que se limita a futebol.
Poder-se-ia participar, por exemplo, em acções de limpeza ou apenas motivando o trabalho
realizado. Isto porque estamos a falar de zonas rurais, aldeias e vilas brutalmente
despovoadas, como se viu nestes fogos de setembro, e onde muitas vezes a população tem
menos conhecimentos e precisa de mais apoios públicos.
Portugal parece estar num caos de desorganização e poucos querem vê-la: poderíamos falar
de médicos, de professores, de prisões e até de floresta. Ou seja, Saúde, Educação, Segurança.
São, portanto, as funções essenciais de um Estado e sobre as quais tem obrigações. Contudo,
por outro lado, hoje a preocupação do Parlamento é legislar amiúde sobre eutanásia et alii,
com pouco rigor e nenhuma oportunidade. E se vêem as consequências não falam das causas.
Sem racionalidade, inundados em ideologias (no caso, habitualmente do extremista Bloco) que
não pensam Portugal nem os desequilíbrios geográficos do território, é um caso sério de país
fundado há quase mil anos. No entanto move-se, como constata Galileu.
Tiago Matias: Professor, investigador em História Local e Etnografia, diplomado em Estudos
Europeus pela Faculdade de Letras de Lisboa
