Na passada terça-feira, dia 5 de novembro de 2024, realizaram-se nos Estados Unidos da América (EUA) as eleições presidenciais, a par com as eleições para o Senado, Câmara dos Representantes e Governadores. Este ano, a disputa foi entre Donald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato pelo Partido Republicado pela 3ª vez, e Kamala Harris, atual vice-presidente dos EUA e candidata pelo Partido
Democrata.

Tendo em conta o registo que tenho vindo a apresentar ao longo deste ano, poderão calcular qual será o propósito de texto: mostrar a minha incredulidade face à reeleição de Donald Trump. E confesso que estou a escrever isto e a pensar “Pedro, vais só escrever um texto em que constatas o óbvio”, mas, por outro lado, parece-me que o que é evidente para mim e para muitos leitores, não é tanto para os estadunidenses que, pela primeira vez, elegeram um indivíduo que fora acusado e condenado por uma série de crimes.

Em maio deste ano, Trump foi considerado culpado pela prática de 34 crimes relacionados com a falsificação de registos comerciais, de forma a pagar o silêncio da atriz Stormy Daniels e, assim, proteger a sua candidatura em 2016, já que, alegadamente, tivera um caso extraconjugal, no passado, com a atriz. Contudo, há que ressalvar que esta condenação foi feita por um júri, tendo o processo ficado “em pausa”
após o Supremo Tribunal ter concedido imunidade parcial ao antigo presidente, uma vez que estes possuem uma ampla proteção judicial. Para além dos processos por abuso sexual, difamação e fraude empresarial, o 47º Presidente dos EUA está indiciado enquanto envolvido no ataque ao Capitólio, que ocorreu em janeiro de 2021, e em crimes relacionados com fraude eleitoral e posse de documentos ilegais, e ao reatribuírem-lhe a presidência, apenas contribuirão para que possa não vir a ser
condenado por nenhum destes delitos. Mas de crimes não é só feito o portefólio de Donald Trump (sendo que já deveria ser suficiente), pois se olharmos para a sua campanha eleitoral, podemos detetar uma série de pontos bastante preocupantes (perdoem-me o eufemismo). Identidade de género, aborto, imigração, imprensa e alterações climáticas são apenas alguns dos aspetos descredibilizados e até revogados pelo político. No fundo, coloca-se a questão: como é que alguém que coloca em causa, de uma forma astronómica, o conceito de democracia consegue ser reeleito numa das maiores potências mundiais? Para além de muita manipulação, prometendo salvaguardar os interesses económicos dos mais ricos.

Li em diversas publicações que, nestas eleições, “a economia vencera a democracia”; e isso reflete-se justamente quando se decide eleger alguém que pouco se preocupa comos direitos humanos – especialmente os das pessoas LGBTQIA+, mulheres e imigrantes –, que quer reconstruir uma barreira física no país, reduzir o financiamento a programas que discutam identidade de género nas escolas, “salvar” o seu conceito de família ideal, entre outras.

Considero simultaneamente importante acautelar que com isto não pretendo colocar Kamala Harris num pedestal e dizer que era a candidata perfeita, até porque as suas opiniões relativamente ao porte de armas e às guerras que estão a ocorrer atualmente são um tanto dúbias. Porém, creio que a lógica era a mesma que em 2020, a meu ver: “dentro do mal, há que escolher o mal melhor”; e o programa da candidata foi essencialmente em torno dos direitos das mulheres e na construção de uma sociedade
livre e igualitária. Ora, creio que discursos como estes são os que afastam o eleitorado de votar, aliado ao facto de a candidata ser uma mulher e por não assegurar os interesses económicos dos mais ricos.

A preocupação expressa face a um futuro incerto e preocupante já se tornou bastante frequente nos meus textos, mas é, efetivamente, algo sobre o qual não consigo parar de pensar. Não é possível deixar de frisar o quão importante é a História nos dias de hoje, nomeadamente olhando para ela, ver o que de errado foi feito e não repetir, justamente, os mesmos erros. Contudo, creio que estão a interpretar de forma contrária o que disse Karl Popper sobre o erro ser um motor de avanço ou então não aproveitam devidamente os descontos das ópticas. Sarcasmos à parte, a verdade é que o mundo vai enfrentar tempos difíceis no futuro; o resultado destas eleições apenas veio agravar uma tendência conservadora e neoliberal que se tem vindo a intensificar nos últimos anos e que poderá significar um retrocesso evolutivo tanto social, como político e económico.

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