Na Idade Contemporânea que nos tocou, repleta de exigências estéticas, com todas as respostas e recursos ao dispor para uma cabal solução, há um admirável mundo colorido a que nós, as primatas modernas, Lady Sapiens do séc XXI, nos rendemos: Nails Art.

O anglicismo dispensa tradução na comunidade feminina. Já o género masculino, ou chega lá pela tradução à letra (se é que o tema lhe desperta algum interesse), ou é capaz de franzir o sobrolho,  trejeito próprio de quem não percebe patavina, mas passível de condescender e dedicar breves segundos ao tema, até para não ficar info excluído, esse horror tirânico dos tempos modernos: não estar a par de coisas… fúteis.

Para esses, a quem desde já agradeço a atenção dispensada, saibam que Nails Art (diz a velha Wikipédia, que a nova IA tratará de copiar e eu também, porque estou a poupar a cabeça para as contas que vou fazer a seguir), “é uma maneira criativa de pintar, decorar, realçar, e embelezar as unhas. É um tipo de arte que pode ser feito nas unhas das mãos e dos pés, geralmente por nail artists ou manicuras. Um nail artist é o profissional que apara, dá forma, cuida e pinta as unhas de forma artística. Geralmente estes procedimentos também envolvem remover as cutículas e suavizar a pele em torno das unhas”. Ou seja, é o procedimento que está por detrás das unhas imaculadamente pintadas, numa diversidade de cores e tamanhos, com recurso a produtos de alta durabilidade que permitem  que a unha se conserve com bom aspeto, até novo tratamento.

O que é que isto traz de relevante para a humanidade? Além de uns arranhões estéticos, aporta lucro. Muito lucro!

Como em tudo o que é negócio, a clássica lei da oferta e da procura, mais o fator moda, ditam o volume de dinheiro em caixa ao final do dia. Basta olhar à volta, em qualquer ecossistema público, para perceber que são aos magotes as mulheres, entre as quais me incluo, a exibir úngulas  irrepreensíveis. Com o mulherio disposto a adquirir e a manter reiteradamente esse cuidado corporal, proliferam os gabinetes que o oferecem. Há dias, despertou-me a atenção, numa avenida de Lisboa, a existência de sete destes gabinetes. Só  no lado da rua por onde circulava!

Foi aí que me deu o “click”  e percebi o elevado grau de rentabilidade do negócio. Até porque o investimento é de grau mínimo, o que permite obter lucros logo no início da atividade. Pouco mais é necessário do que uma mesa, duas cadeiras, um kit de verniz gel e gelinho, dois fornos para secar o verniz, e uma caixa registadora com uma gaveta grande.

É claro que ganhar mais ou menos dinheiro depende de fazer agenda e da rapidez de execução do serviço. É o caso do gabinete que me esculpe e patina as unhas, a cargo de duas nail artists, que limam, brocam e pintam, em média, as unhas de duas clientes por hora. Cada uma delas! Tendo em conta que o serviço com o preço mais baixo  (gelinho) é de 16€, significa que cada uma destas “artistas”, ganha 32€ / hora. Dado que o gabinete abre às 9h30 e encerra às 19h30, e supondo que fazem pausa de uma hora para almoço, trabalham (muito) 11 horas por dia. O que significa que, no mínimo, cada um a delas encaixa 352€/ dia. Com tendência a ser mais, já que há outros serviços, que embora mais demorados, são mais caros. Mas vamos pelo mínimo e completemos o resto da aritmética. Por mês, o volume de negócio gerado por cada uma destas  senhoras é de 7 774 euros, o que, grosso modo, representa um encaixe de 15 mil euros para o atelier. É claro que há despesas a deduzir, como renda, eletricidade e material (cada frasco de verniz deve dar para pintar 40 mãos e não custará mais que sete euros). Atirando para o ar uma despesa de cinco mil euros de custos para o gabinete, cada uma delas aufere um ordenado de cerca cinco mil euros.

Não me choca, de todo! Apenas me chamou a atenção uma atividade altamente lucrativa, onde não é necessário queimar pestana para adquirir a formação necessária. Basta um curso de algumas horas e “ganhar mão” para o trabalho.

Tendo em conta que  em Portugal, o salário bruto mensal de um médico em início de carreira (durante o internato médico, inclusive formação geral) situa-se geralmente entre €1 750 e €2 350 por mês, conforme o escalão e tipo de formação… dá que pensar.

Queimar a pestana ou pintar unhas? Neste momento, o mercado é altamente favorável à segunda opção.

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