Os vinhos da Adega Herdade das Aldeias de Juromenha voltaram a brilhar no prestigiado concurso Mundus Vini, na Alemanha. Dos seis néctares avaliados no certame, quatro foram galardoados com Medalha de Ouro e dois com Medalha de Prata.

“Este ano seleccionámos uma série de vinhos que gostaríamos que tivessem validação lá fora e foram enviados a este concurso, que nos é bastante querido, uma vez que o painel de prova e a maneira como é feita as selecções é um critério que estamos de acordo com ele”, disse ao “Linhas de Elvas” João Paulo Calado.

O responsável precisou que foram a concurso seis vinhos, dois exclusivos da Mercadona – um tinto, que é novidade, e um branco, que é a terceira colheita feita para a cadeia de supermercados -, outros três tintos e mais um branco, estes já da marca Aldeias de Juromenha.

Todos os néctares acabaram por ser medalhados. “Os dois Castelo do Rei, branco e tinto, receberam uma Medalha de Prata e uma Medalha de Ouro, respectivamente, e, no caso dos Aldeias de Juromenha, o branco, que é o nosso gama de entrada, foi Prata, o Syrah Reserva 2023 foi Ouro, o Syrah Signature, que é uma edição especial que nós fazemos, foi também Ouro e o Juromenha Reserva Blend, além de ser Ouro, foi o melhor vinho tinto alentejano do concurso”, salientou João Paulo Calado.

O segredo dos néctares premiados

Abordando as características dos néctares premiados, o enólogo Vítor Félix começou por referir que o Castelo do Rei branco é um vinho com umas notas de amêndoa, alguns tostados e uma madeira bem integrada com a parte da frescura. “Procurámos puxar pela fruta, indo ao encontro do novo consumidor”, vincou.

O Aldeias de Juromenha branco 2024 também possui “essa parte mais tropical, fugindo um bocado do registo dos vinhos mais alentejanos”. “Tentamos não ter muita madeira, mas sim uma madeira bem integrada, bem casada com o vinho, e ter uma boa frescura”, sublinhou.

Por seu turno, o Aldeias de Juromenha Reserva Syrah tinto 2023 “é um vinho que procura ir ao encontro dos jovens, com mais volume e mais doçura, mas sem ter açúcar residual”. “Nós tentamos trabalhar bem a parte dos taninos, procuramos colher as uvas na altura certa, com boa maturação fenólica, para não termos herbáceos, e temos vinhos elegantes com alguma doçura logo de origem e com muita fruta”, explicou.

No Aldeias de Juromenha Reserva Syrah Signature 2021, “que esteve dois anos em barrica, tentámos ter um vinho mais sério, com mais tosta, mais madeira, mais amanteigados, mais aromas de barrica e bouquet já de estágio”. “É um vinho mais de guarda, em que tentamos expressar toda a nossa enologia. Procuramos que o vinho, ao longo do tempo, se vá revelando. Neste momento é um vinho que tem uma longa vida pela frente e que vai mostrar muito mais do que vale hoje em dia. Portanto, tem um grande potencial em garrafa”, frisou.

Vítor Félix destacou depois o “trabalho que tem vindo a ser feito” no Aldeias de Juromenha Reserva tinto 2023. “Desde há três anos para cá temos vindo a melhorar os nossos vinhos, integrando novas técnicas de vinificação, em que tentamos integrar as castas mais típicas alentejanas, como o Alicante, a Touriga Nacional e a Trincadeira, juntamente com as nossas castas de eleição. Tentamos fazer um blend das nossas melhores castas”, resumiu.

Já o Castelo do Rei tinto, que estagiou seis meses em barricas de carvalho francês e americano, revela um aroma rico, com notas de bombom inglês e frutos vermelhos.

Segundo Vítor Félix, a “palavra de ordem” na empresa tem sido “procurar a elegância, a fruta, o volume e a tosta que o mercado quer”.

“Procuramos ir ao encontro do novo consumidor e, ao mesmo tempo, respeitar aqueles que já são nossos fiéis consumidores. Também trabalhamos para o mercado, que está em profunda mudança e que procura vinhos especiais para ser surpreendido”, acrescentou.

Crescimento sustentado

A Adega Herdade das Aldeias de Juromenha está prestes a concluir a sua 22.ª vindima. De acordo com João Paulo Calado, ao longo desta caminhada tem sido “feito um trabalho de inovação, procurando sempre entender os clientes, aprender com os erros e com as vitórias, fazer um trabalho baseado em enologia pura e séria, não criando atalhos, mas sim vinhos verdadeiros”.

A ideia é dar “tempo ao tempo”, produzindo “vinhos que precisam de amadurecer para sair para o mercado”, ou seja, fazer “enologia tradicional, mas utilizando novas formas de o fazer”. “É reinventar o processo, fazendo vinhos bons, que não fazem mal a ninguém, sem produtos estranhos, trabalhados de modo a atingir aquilo que nós achamos que é o perfil de hoje em dia, que são vinhos mais suaves e doces, mas naturalmente, sem subterfúgios”, afirmou.

Outra mais-valia é a aplicação da enologia vegan, que resulta na produção de vinhos “cada vez mais naturais”.

“Além dessa luta de não usar nada de produtos derivados dos animais, a ideia é também colocar cada vez menos produtos químicos. Tudo o que colocamos é só para acrescentar valor”, explicaram João Paulo Calado e Vítor Félix.

Com todas estas apostas, os resultados estão à vista: “A nossa marca Juromenha tem vindo a crescer paulatinamente, sem stress, sem grandes correrias de investimentos em marketing, mas sim do boca a boca, da aceitação e da confiança do cliente”.

Aliado a tudo isto, os prémios obtidos em concursos da especialidade são uma “vitamina”. “Estes prémios dão-nos sempre uma vontade de continuar e, no caso dos Prata, melhorar e ir para o Ouro”, afiançou João Paulo Calado.

O responsável abordou ainda a campanha deste ano, que, no caso da Adega Herdade das Aldeias de Juromenha, começou no dia 13 de Agosto e está no final.

“Foi uma campanha com algumas quebras significativas na quantidade, mas já se esperava. Detectámos, logo na parte do arranque da vinha, que havia ali um desequilíbrio qualquer. Não sabemos ainda muito bem de onde é que veio, mas é geral ao País e até mesmo a algumas partes do estrangeiro. No entanto, temos qualidade, sendo até um ano surpreendente para tintos”, referiu.

Parceria com a Mercadona é “para continuar”

Outro pilar do sucesso recente é a parceria com a Mercadona, iniciada em 2022. Os primeiros vinhos chegaram às prateleiras em 2023 e rapidamente esgotaram.

“Cumprimos o desafio que nos foi lançado e esgotou rapidamente. Lançámos uma nova versão desse desafio e esgotou novamente. Agora estamos na terceira fase desse desafio, onde já entrou também a parte do tinto e com boas perspectivas”, reconheceu João Paulo Calado.

“Estamos contentes com a maneira como eles tratam a adega. Tem sido uma relação muito boa e é uma parceria para continuar”, acrescentou o responsável.

Novos projectos a caminho

Brevemente, em princípio ainda durante o mês de Setembro, a adega prepara-se para lançar o Aldeias de Juromenha Reserva branco 2024 e um novo Antão Vaz, “com uma nova forma de fazer vinho”.

“Esperamos que o vinho tenha boa aceitação. Foi o nosso melhor branco do ano passado. Com as novas formas de vinificação, procuramos ter um grande volume de boca e muita fruta”, explicou Vítor Félix.

Mas as novidades não ficam por aqui. Até ao final do ano, serão também apresentados um Alicante Bouschet, um Cabernet Sauvignon e um Touriga Nacional.

Já para o Natal, está a ser preparada uma experiência enófila, que deverá ser lançada em Novembro, que consiste numa caixa com cinco garrafas de vinho, revelaram Vítor Félix e João Paulo Calado.

A história recente da Adega Herdade das Aldeias de Juromenha é exemplo de como a tradição alentejana pode dialogar com a modernidade. A aposta em vinhos autênticos, produzidos sem atalhos, com respeito pela natureza e pelo tempo de maturação, tem rendido frutos, dentro e fora de Portugal.

Com os prémios do Mundus Vini, a empresa reafirma o seu lugar entre os protagonistas do sector vínico. Mais do que medalhas, estas distinções confirmam uma visão de futuro, enraizada no rigor técnico, na paixão pela enologia e na vontade de surpreender os consumidores em cada garrafa.

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