A política não lhe corria forte. Não porque não gostasse da ciência em si, nem da abrangência do conceito, visto que sempre reconheceu que “ela é necessária”, e até sublinha que “na sua opinião “tudo é política”. Confessa que simplesmente “não gostava dos políticos”. De tal forma que em muitos actos eleitorais decidiu não decidir, e foi abstencionista. Atitude da qual discorda, aos dias de hoje, porque entende que “temos que nos preocupar e interiorizar que tudo é decidido politicamente: a segurança, a educação, a saúde…” Sem negar a falta de motivação que o assistiu, durante anos, para a escolha dos representantes nos governos centrais e locais, Bruno Borrega é agora candidato a presidente da Câmara de Campo Maior pelo CHEGA. O PS pela negativa e André Ventura pela positiva, são os responsáveis pela mudança de diapasão. Aos 44 anos Bruno Borrega assumiu que “não adianta ficar sentado no sofá a reclamar ou ir protestar para as redes sociais”, e deu um passo em frente. Rigorosamente a um mês das eleições, apresenta-se com uma lista de críticas, acompanhadas de um conjunto de propostas e ideias que se afastam da moda do turismo do presente, e que incidem acima de tudo na plataforma logística e na preocupação de resolver o problema da escassez de água.
Ponto a ponto, eis a forma e a substância de um projecto que pretende ser uma alternativa aos sucessivos governos socialistas em Campo Maior.

“Ouvi o André Ventura em 2019, quando foi eleito para a Assembleia da República. Gostei das ideias dele, da forma de falar. Não quer dizer que esteja de acordo com tudo, mas o caminho é esse”. Depois de explicar a atitude de afastamento dos desígnios políticos e de apresentar as razões que a justificaram, Bruno Borrega conta como sentiu um click que o colocou nos antípodas do desinteresse pela actividade política e partidária. A atenção que o líder do CHEGA lhe tinha despertado, viria a reforçar–se após um almoço organizado por André Ventura em Vale de Cavalos, que lhe permitiu ficar cara a cara com o número um do partido, e reforçar a intensão de passar a ter um atitude proactiva. “Na altura ele também estava no início da sua carreira política, e após termo-nos cruzado, fiquei com a melhor impressão. A partir daí as coisas foram-se desenrolando. Criámos um núcleo do CHEGA em Campo Maior, que viria depois a gerir a parte das eleições autárquicas. Não éramos muitos. Apenas os necessários para a criação do núcleo”. Pouco tempo depois elaboraram a lista candidata à Câmara. Bruno Borrega esclarece que inicialmente não era para ser ele o candidato. “Eu iria em segundo lugar, porque não me via com perfil para a liderança, mas por motivos pessoais o candidato teve que desistir e avancei eu”. Explica que na raiz da sua decisão esteve também “o desagrado pelas políticas do Partido Socialista, quer a nível do Governo central, quer a nível da autarquia de Campo Maior, que é quase uma fotocópia da política que está a ser seguida pelo Governo. Digo isto porque, por exemplo na última década o PS em Campo Maior gastou milhões de euros em obras, umas por acabar, outras sem nenhum interesse para os campomaiorenses, e eu estou completamente contra isso”.
As críticas à gestão autárquica dos últimos anos
Quando é desafiado a fazer uma análise ao desempenho do executivo campomaiorense, Bruno Borrega não tem dificuldade em apontar inúmeras falhas e em se mostrar discordante com muitas das opções tomadas. Do rol de críticas que desfia, começa por mencionar a Casa do Governador em Ouguela, uma obra que considera “inútil”. Questiona a utilidade do edifício “que está sempre fechado. Abriu apenas no dia da inauguração. Realmente foi recuperado e custou cerca de 300 mil euros, mas ninguém sabe para que serve. A Câmara decidiu apostar no turismo naquela freguesia, mas se um turista for a Ouguela, não tem sequer um sítio para comprar uma garrafa de água. A obra das muralhas também está incompleta”.
Em relação à intervenção nas muralhas da vila e à retirada da etnia cigana do local, o candidato do CHEGA refere que não estando em desacordo com o projecto considera que “as obras são secundárias. Entendo que deviam ter captado fundos para outras áreas mais prementes, como por exemplo para a construção de um novo lar e uma unidade de cuidados continuados que prometeram em 2016 e não fizeram”. Mostra-se também em desacordo com a construção do parque modular e descrente da utilidade do investimento. “Para que é que Campo Maior quer um parque modular que vai custar um milhão e oitocentos mil euros? Esse dinheiro devia ser canalizado para coisas que valem a pena”. Aponta como mais sensível, necessária e urgente a intervenção nas estradas municipais “que estão completamente destruídas. É uma das piores falhas que eles têm. Eu pergunto: quando as vão arranjar? Chegaram a um ponto de degradação que não permite que sejam feitos remendos. Têm que ser colocados tapetes novos”. Das estradas, transita para “a parte velha da vila, que está totalmente votada ao abandono. Não resolveram pequenos problemas e instalou-se o efeito bola-de-neve. Actualmente está num estado de decadência e de insegurança que faz ter receio de lá ir à noite. Há inúmeras queixas dos moradores”. Mostra-se chocado e pede explicações sobre a “destruição de uns tranques públicos que foram anulados para ser construída uma casa de habitação. Como é que uma memória histórica, com mais de 80 anos pode ter sido destruída? Não sei até que ponto isso é possível, e se eu for eleito isso terá que ser averiguado”.
A estratégia e as propostas do CHEGA para conquistar a Câmara de Campo Maior
No lado oposto do espectro, Bruno Borrega apresenta-se com opções de gestão que contrariam a grife governativa dos últimos anos. Desde logo minimiza a opção do actual elenco camarário em dar primazia ao turismo e puxa para primeiro plano um posicionamento estratégico na eurocidade e na captação de emprego. Sem embandeirar em arco, apesar de se congratular com os índices positivos que demonstram que Campo Maior é a localidade do distrito de Portalegre com o PIB mais alto, com o salário médio mais elevado, onde o valor de desemprego é escasso e onde existem mais jovens, o candidato da direita considera que há que acautelar o futuro e trabalhar para a conservação e fixação dos mais novos. “Por enquanto não temos problemas de emprego, mas não sabemos o futuro. Não podemos estar acomodados. O PS aposta no turismo, e eu acho que não é a melhor escolha. Se é essa a opção para a próxima década, muito mal vamos estar”, critica, enquanto defende “uma grande aposta na plataforma logística, onde temos que assegurar uma quota de postos de trabalho. Se por exemplo, a plataforma permitir a criação de 5 mil empregos, 3 mil poderão ir para Badajoz, mil ou mil e quinhentos para Elvas e 500 para Campo Maior. Se o espaço físico vier a estar lotado, também temos que disponibilizar na nossa localidade lotes de terreno para a fixação de empresas, negociando sempre a cedência de um determinado número de postos de trabalho. Neste momento estamos numa situação estável, mas não sabemos o dia de amanhã”, reitera. Põe em relevo que a opção do turismo deverá ser apenas “um complemento da nossa economia, e não a base”.
A resolução de um problema que considera “grave”, está também no topo das preocupações do candidato do CHEGA, que se apresenta “com dois grandes projectos para resolver a escassez de água na Barragem do Caia. Há quatro municípios que dependem da barragem: Monforte, Arronches, Elvas e Campo Maior. Eu penso desta forma: a Barragem do Abrilongo no Inverno ganha água muito facilmente. Em consequência, todos os anos há cheias no Xévora. Com o envolvimento dos quatro municípios defendo a construção de uma conduta que não terá mais que quatro quilómetros e que vai permitir um aproveitamento dessa água que cai em exagero e que depois vai para o Guadiana”. Ainda no capítulo da água, defende outra solução. “O canal do Caia tem um débito intenso durante todo o Verão. Muita dessa água, que vai para o Guadiana, é desaproveitada. Basta inserir umas manilhas no canal para não deixar escapar a água. Nunca houve ninguém a medir a quantidade que se deixa escapar, mas é um valor exagerado. Com esta intervenção passaria a haver uma saída controlada para o rio e não um escape desregrado como se verifica actualmente”.
Bruno Borrega demora também o olhar no parque industrial de Campo Maior e advoga uma duplicidade de valências: “a par da industria, ser permitida a implementação de espaços comerciais. Se alguém pretender abrir um café, um restaurante, poder fazê-lo. Considero que é importante movimentar a zona”. Em paralelo defende um reajuste na dimensão dos lotes de terreno, que ao obedecerem a uma dimensão uniforme, dificultam a fixação de micro e pequenas empresas. “Essa foi uma proposta que divulguei na minha página do facebook. Porque razão os terrenos têm que ser todos iguais? Um mico empresário não necessita, por exemplo, de 400 metros quadrados para o exercício da sua actividade. Porque motivo a Câmara não vende lotes de 50 metros? Outra opção deveria ser o arrendamento com uma duração de 10 anos, em que Câmara construiria o espaço, mediante a obrigatoriedade do empresário garantir o funcionamento da empresa durante esse tempo. No termo do contrato, o terreno passaria a ser da empresa. Esta seria uma grande ajuda e um grande incentivo para os empresários, porque para a aquisição de um terreno são necessários valores que seguramente rondam ou até ultrapassam os cem mil euros e nem todos conseguem suportar este custo, principalmente no arranque”.
Ainda no plano empresarial, o candidato do CHEGA propõe-se elaborar uma lista “de todas as empresas e prestadores de serviços existentes em Campo Maior, que deverá estar acessível aos munícipes de forma a permitir que sempre que necessitem contratar serviços possam fazê-lo recorrendo à oferta existente no concelho. Muitas vezes existem ofertas e soluções que não são conhecidas, e é importante ajudar as empresas locais”.
A construção do lar é outro item que consta da agenda do CHEGA .”Porque o que existe é manifestamente insuficiente e inclusive estão registadas várias queixas sobre o seu funcionamento”.
Relativamente a “pequenos projectos” Bruno Borrega salienta a necessidade de “dar uma atenção especial ao parque verde, que até está bem cuidado mas carece de equipamentos que permitam a realização de actividade desportiva. Deveriam ser disponibilizadas máquinas que possam ser utilizadas por todos os munícipes, dos mais jovens aos mais velhos”. Em cima da mesa está também “um plano de arborização que inclui a retirada de algumas árvores que estão mal posicionadas”. O alargamento dos passeios é uma das principais intervenções que pretende fazer no centro da vila. “Há locais onde os passeios são intransitáveis e que dificultam a movimentação de pessoas com mobilidade reduzida ou até a passagem de carrinhos de bebé”.
As hortas comunitárias merecem-lhe também “uma atenção especial, assim como o parque de campismo, que está uma vergonha há décadas”, sublinha, enquanto destaca que pretende estar atento relativamente ao funcionamento do Centro de Saúde “que ultimamente tem fechado as portas várias vezes, por falta de pessoal administrativo. Embora não seja uma área de competência da Câmara, compete ao município alertar e insistir para que seja encontrada uma solução”.
Traços da ideologia como ponto de partida para a corrida à Câmara Municipal
Ao apresentar-se como uma alternativa de gestão autárquica, Bruno Borrega não deixa de se dirigir ao eleitorado inspirado em alguns princípios ideológicos do partido que representa. Deixa transparecer alguns vasos comunicantes que o fazem olhar contra o Governo central e local, e em particular contra o Partido Socialista. “A questão da segurança, que não existe apenas no município, mas que é um problema que diz respeito ao país inteiro. Nós sabemos que neste momento, se um criminoso entrar nas nossas casas, entra com mais direitos que nós. E quem tem permitido isso? O PS, que é quem está no Governo. Porque é que as forças de segurança não têm autoridade? O PS não permite”. Insiste que apresenta uma candidatura que reflecte “desacordo com muitas coisas do Partido Socialista, tanto a nível central como local. É o que sinto e sei que é o que sente muita gente, inclusivamente muitos socialistas que sei que vão votar em mim, porque veem na minha candidatura uma escapatória”. Questionado sobre o seu posicionamento político, em particular se se assente como um homem de direita, ou se acima de tudo emite um grito de revolta contra os erros que aponta, considera que “antigamente fazia mais sentido a destrinça entre esquerda e direita. Penso que chegámos a um ponto em que já não é tão clara essa demarcação. O que é grave, e mais uma vez por mérito do PS, é que as pessoas aceitem de maneira natural que haja corrupção, pedófilos e todo um leque de outras coisas que não deviam existir. Há um deixa andar e um descrédito, e isso está patente na abstenção”. Vê com naturalidade que “neste contexto” haja uma progressão do partido liderado por André Ventura, que é uma janela que se abriu “para todo o tipo de gente. Uns por revolta e outros porque simplesmente se identificam com as ideias defendidas”.
Das quatro forças políticas que se apresentam a sufrágio em Campo Maior no dia 26 de Setembro (PS, CHEGA, Bloco de Esquerda e CDU), Bruno Borrega acredita que a medição de forças vai estar centrada essencialmente entre o partido que representa e o que tem exercido o poder ao longo das últimas décadas. Afirma que no seu entendimento “vai ser o Luis Rosinha quem vai pagar os erros das opções que foram feitas. Das últimas eleições, em 2017, resultou uma maioria PS. Acho que ganharam com 65 por cento dos votos, e houve um eleito pela CDU, mas também sei que isso não reflecte a realidade. Algumas pessoas votaram PS por receio da ideologia dos comunistas. Por outro lado a CDU teve uma ascensão porque houve quem não quisesse dar o voto aos socialistas e preferiu depositá-lo nos comunistas. Este ano penso que o resultado vai reflectir a realidade. Sei que parto com a minha inexperiência, mas estou confiante de que as pessoas vão captar e entender a minha mensagem”.
A estratégia da campanha
As redes sociais são o quartel general de onde Bruno Borrega emite mensagens para o eleitorado. É no Facebook e no Instagram que publica quase a diário, ou até mais que uma vez no dia, as suas ideias, as acções que vai desenvolvendo e as críticas que vai apontando. É também ali que vai obtendo reacções, palavras de incentivo e até promessas de voto, que lhe vão permitindo fazer contas à distância que o separa do cargo que pretende vir a ocupar. Apesar de estes serem canais que todos os candidatos autárquicos de todo o país utilizam pelo contexto pandémico, afirma que não quer “fazer como os outros. Acho que temos que convencer e fazer acreditar as pessoas não porque lhes damos um beijo ou um abraço. Têm que acreditar em nós pelo nosso plano eleitoral e pela nossa palavra. Embora possamos obter alguns votos com algum sorriso, acho que não devem votar em mim porque sou simpático. Devem fazê-lo porque apresento alternativas para Campo Maior. E depois também temos que diluir as etiquetas que a esquerda atribuiu ao nosso partido, que apelida de fascista e racista, procurando que as pessoas estejam mal informadas e que façam críticas infundadas”. Considera que “por ser um partido novo o CHEGA parte em desvantagem relativamente às outras forças políticas, em particular o PS e a CDU, que beneficiam de uma máquina de propaganda já instalada”. Procura capitalizar o facto de Campo Maior ser uma terra pequena, onde “o boca-a-boca também chega às pessoas”. E apela aos eleitores que com ele privam mais directamente, e aos que o seguem nas redes sociais, que se tornem seus mensageiros e que passem a palavra a familiares e amigos. Mostra-se também crente na captação natural do eleitorado mais à direita, em particular o que advém do espaço deixado pelo PSD e pelo CDS que não apresentam candidaturas. “Acho que é um eleitorado que irá ver em mim um representante, porque sempre acreditaram em políticas de direita e não se sentem há muito tempo representados em Campo Maior. Agora têm uma alternativa”.
Tocado pelo propósito inabalável de vir a ser o próximo presidente da Câmara de Campo Maior, Bruno Borrega também não afasta a possibilidade de vir a integrar o elenco num cargo de vereação. Nesse cenário, vindo a fazer parte de um executivo onde não haja uma maioria, dispõe-se “a trabalhar sempre em benefício dos campomaiorenses. Se necessitarem do meu voto para fazer aprovar algum projecto que seja benéfico para a população, eu aprovo sem hesitação. Não sofro de cegueira política e irei sempre colocar o interesse de Campo Maior à frente de tudo”.
Porém, muito diferente seria a atitude se hipoteticamente o CHEGA não se apresentasse a votos em Campo Maior. Se assim fosse, Bruno Borrega, mesmo a contragosto, iria reescrever a história de outros actos eleitorais e voltaria a ser abstencionista. “Não conseguiria votar nas outras candidaturas de maneira nenhuma. Infelizmente era a abstenção, sem qualquer dúvida”. Esclarece porquê. “Devo confessar que a primeira vez que o Ricardo Pinheiro se candidatou, que foi na altura em que comecei a preocupar- -me um pouco mais com a política, votei nele. Conhecia o Ricardo desde pequeno (pensava eu), e dei-lhe o benefício da dúvida. Foi uma enorme decepção, porque ele demonstrou que é um socialista puro. E para mim foi um dos piores presidentes que o município teve. Conseguiu captar fundos europeus que, na minha opinião canalizou para obras inacabadas em vez de se preocupar em realizar obras prioritárias. Em relação à lista que este ano se apresenta, considero que é a pior de sempre. Nas outras forças políticas também não iria de todo votar nelas”.
Será o CHEGA a pedra de toque que vai desequilibrar a equação vigente em Campo Maior há várias décadas? Terá Bruno Borrega o lastro necessário para retirar o PS da Câmara, ou para encurtar o espaço que ocupa? Falta um mês para se saber.
Entrevista conduzia por Arlete Calais