Celebra-se hoje, dia 14 de fevereiro, o Dia dos Namorados, também conotado de Dia de S. Valentim. Ao lado do Natal e do Dia da Mãe ou do Pai, por exemplo, o significado desta data acaba por se revelar um tanto dúbio; não que não devesse ser celebrada, mas pelo facto de, maioritariamente, o ser humano se lembrar de celebrar o amor, a união e o respeito pelo próximo somente nestas ocasiões específicas, ao invés de o fazer diariamente.

A título de curiosidade, esta “celebração” está consubstanciada a uma referência religiosa. Valentim foi um bispo romano que celebrava casamentos de soldados contra as ordens do imperador Cláudio II; este acreditava que os soldados combateriam melhor na guerra se permanecessem solteiros e ao descobrir tamanha clandestinidade condenou Valentim, que acabou por ser executado.

Nesse sentido, acabei a pensar naquela premissa um pouco trágica de “morrer por amor”. Se bem que, como já puderam constatar através do título, não iremos falar do amor. Falaremos de atos que dizem ser cometidos em nome do amor, mas que não passam de crimes hediondos, vis e covardes. E poderão vocês estar a perguntar por que vim eu falar sobre este tema no dia de hoje. A resposta é simples: é um tema que, a meu ver, não é muito falado, principalmente em escolas. Posso ter uma perceção completamente errada, porém sinto que muitos jovens ainda não têm a capacidade de identificar certos sinais de alerta nas suas relações, que poderão culminar em algo extremamente tóxico e violento. No ano passado, um estudo sobre violência no namoro levado a cabo pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) revelava que 67,5% dos jovens inquiridos não era capaz de identificar comportamentos perigosos, tais como controlo, perseguição ou violência psicológica.

Aditivamente, há 15 dias, a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) publicou dados relativos aos crimes cometidos em violência doméstica, no último trimestre de 2023, em Portugal. Ainda que os indicadores estatísticos tenham sido ligeiramente mais baixos, quando comparados com o período homólogo de 2022, a verdade é que continuam a existir e isso, por si só, já é alarmante. Em 2023, foram participados 30279 crimes de violência doméstica, sendo que 22 pessoas, das quais 17 eram mulheres, 2 crianças e 3 homens, morreram neste contexto.

Dessa forma, o que pretendo destacar hoje é a falta de ação e sensibilização que existe no nosso país, já que não é compreensível a existência destes números quando confrontados com as alterações feitas na lei e com a gradual evolução social que temos vivenciado. É, por isso, crucial que a vítima não se deixe dominar pelo medo, ainda que não seja tão fácil quanto isso; daí ser tão fundamental a atuação de terceiros. Relembro que a violência doméstica é um crime público desde o ano 2000, isto significa que qualquer pessoa que tenha conhecimento da prática deste ato condenável pode e deve denunciá-lo. Finalmente, é importante uma atuação eficaz e reforçada por parte das entidades de segurança competentes, uma vez que, muitas vezes, a forma de operação destas é aquilo que contribui para que as vítimas não denunciem estas práticas.

Se estás ou conheces alguém que esteja a passar por uma situação de violência na sua relação, deixo aqui alguns contactos que poderão ser úteis:

  • Serviço de informação a vítimas de violência doméstica: 800 202 148 (gratuita, 24 horas, 7 dias por semana)
  • Linha Emergência Nacional: 112
  • Linha Emergência Social: 144
  • Linha de Apoio à Vítima: 116 006 (dias úteis, 8h-23h)
  • SOS Criança: 116 111
  • Linha SMS: 3060

Por fim, uma saudação a Luís de Camões, que onde quer que esteja, espero que não se incomode com a apropriação que fiz do seu tão conhecido verso. E desejo um feliz Dia dos Namorados a todos os casais, mas lembrem-se sempre de que os limites são impostos por cada um e há sempre que respeitar e cuidar o próximo, porque os sinais estão sempre lá; há que, por conseguinte, saber identificá-los e agir imediatamente de forma a evitar o escalar para consequências drásticas. No “amor”, não vale tudo!

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